Estereótipos
Nossa geração ainda tem em mente a imagem de um indígena selvagem, seminu, morando na floresta. Vemos ora vítima, ora guerreiro, ou atrasado. Fomos ensinados assim, vimos desenhos que representavam desta maneira nos livros escolares.
Pouco se sabe, na verdade, sobre a cultura indígena, salvo historiadores e o que aparece na mídia. Temos pouco contato com indígenas e quando temos, ficamos observando como se fossem seres exóticos, vivendo outra realidade. A cultura indígena tem suas particularidades, sua arte, crenças, hábitos e forma de ver a vida e a natureza, dando a esta valor imensurável. Cada cultura é uma forma de viver neste planeta, e a indígena, sem dúvida, faz de maneira respeitosa e interativa.
O indígena brasileiro – dados oficiais
Segundo o IBGE, “há cerca de 900 mil índios no Brasil, que se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Os dados fazem do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta. Em comparação, em todo o continente europeu, há cerca de 140 línguas autóctones, segundo um estudo publicado em 2011 pelo Instituto de História Europeia.”(FELLET)
Conforme o IBGE, houve uma retomada do indígena às áreas tradicionais, optando pela convivência mais isolada, em meio à natureza:
Em outros casos, indígenas podem ter retornado a terras que tiveram sua demarcação concluída. Hoje 57,7% dos índios brasileiros vivem em terras indígenas.”(FELLET)
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Comunidade indígena na cidade de Farroupilha, na serra gaúcha. |
Embora ainda muitos indígenas vivem em cidades, a maioria mora em reservas demarcadas ou aldeias específicas e sobrevivem de artesanato de palha e taquara, cerâmica e outros em madeira. Sofrem muito preconceito, pois a ignorância da sociedade não consegue compreender sua natureza e costumes. Assimilamos diversos hábitos vindos dos indígenas, como dormir na rede, tomar banho todos os dias ou comer milho, por exemplo.
“No contato, a todo o momento são postos à prova quanto as suas identidades étnicas, visto que a concepção que predomina nas sociedades não-indígenas é de povos do passado, não compreendendo que a dinâmica cultural, que é própria de todas as sociedades, faz com que incorporem alguns elementos da cultura ocidental, o que não significa que deixaram de se identificar como indígenas.” ( BERGAMASCHI, GOMES)
A educação
A educação entre os povos indígenas valoriza a criança, que merece ser tratada com delicadeza, ao mesmo tempo em que desenvolve a autonomia, tornando-se muito independente. Liberdade talvez seja a principal característica dos povos indígenas, que tem um modo específico de ver a vida. Os indígenas valorizam a língua falada e seus conhecimentos são passados dos mais velhos aos mais novos. Porém o indígena da atualidade está conectado com o mundo, estuda, cursa universidade e usufrui das vantagens da era digital. O índio dos dias de hoje se veste com roupa normal, o que não o descaracteriza, mas nos lembra que todos mudamos com o tempo.
“Se os povos indígenas empreendem esforços para concretizar o diálogo intercultural, nos levam a pensar que se a proposta educacional é conviver e efetuar trocas com as sociedades indígenas, a escola terá que fazer um esforço para conhecer esses povos, sua história e sua cultura e, mais especialmente, afirmar uma presença que supere a invisibilidade histórica que se estende até o presente. Apesar da colonização, do genocídio, da exploração, da catequização, da tentativa de assimilar os indígenas à sociedade nacional, estes povos mantiveram-se aqui, resistentes, mesmo que por vezes silenciosos.” ( BERGAMASCHI,GOMES)
Os Bugres - Kaigangs
Moro na encosta da serra, em São Vendelino, que fica próximo de Farroupilha, onde há uma aldeia indígena, com 20 famílias, uma igreja evangélica e uma escola. Os bugres, comumente chamados, vivem em contato direto com a natureza e sobrevivem vendendo seus artesanatos nas ruas das cidades próximas.
Em minha cidade ocorreu a história de Luís Bugre, um garoto indígena que se perdeu da tribo e foi criado por meu bisavô, colono português, até a idade adulta. Contam que era hábil caçador, guia dos imigrantes, mas também tinha seu lado rebelde e sofria com as zombarias dos colonos alemães, isso no século XIX. Possivelmente estes preconceitos geraram revoltas, como na história local de extermínio da família Versteg, pelos indígenas, como relata reportagem recente no Jornal NH. http://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2017/09/webtv/2172432-conheca-a-historia-do-indio-luis-bugre-luis-bugre-e-o-ataque-aos-vertsteg.html
Referências:
BERGAMASCHI, Maria Aparecida. GOMES, Luana Barth. Currículo sem fronteiras. A TEMÁTICA INDÍGENA NA ESCOLA: ensaios de educação intercultura. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. 2012.
ERTEL, Débora. NH (Jornal digital). A lenda de Luís Bugre. Vídeo. 2017.
FELLET, João. BBC Brasil. Revista Prosa Verso e Arte (Revista digital). 305 etnias e 274 línguas: estudo revela riqueza cultural entre índios no Brasil. (2016)
FRONZA, Raquel. Pioneiro (Jornal digital).Conheça a única comunidade indígena da Serra gaúcha, em Farroupilha. 2015.
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