O que vemos, infelizmente, em muitas escolas, nas práticas docentes? Vemos alunos passivos, acatando sem questionar ou participar, as informações que são repassadas pelo professor, em um sistema arcaico de ensino, sem uso de tecnologias e temas de interesse dos alunos.
Embora considerada arcaica, esta metodologia de ensino ainda é largamente empregada nas salas de aula, justificada por ser mais prática (não é necessário levar em conta a opinião do aluno), em uma forma de manter o centro de atenção no professor, o grande “protagonista” do ensino. Nestas salas de aula o silencio impera, necessário à concentração exigida em monólogos. A passividade do aluno evita distrações, conversas paralelas e conflitos de opinião. Ou seja, quanto menos o aluno participar, melhor, pois basta que ele preste atenção, assimile as informações e grave as mais relevantes para firmar o aprendizado.
O que vemos são alunos engaiolados em um sistema de ensino que aprisiona e corta as asas, impedindo voos maiores. Para o sistema, alunos que voam são perigosos e dão trabalho. Não somente ao sistema escolar, mas da sociedade como um todo.
Rubem Alves nos lembra de que a escola tem que incentivar o voo dos alunos, libertando da gaiola que os insere:
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” (RUBEM ALVES)
Defendemos uma escola democrática, onde seja incentivada a participação dos alunos, com a prática pedagógica partindo de seus centros de interesse, orientada pela curiosidade e desejo de saber. Porém, segundo Fernando Becker, não se desmonta um modelo pedagógico arcaico apenas com críticas, sejam psicológicas ou sociológicas, mas deve-se fomentar a crítica epistemológica na formação docente. O professor deve se questionar o que seu método pedagógico irá fomentar:
“Para enfrentar este desafio, o professor deveria responder, antes, a seguinte questão: que cidadão ele gostaria que seu aluno seja? Um aluno dócil, cumpridor de ordens, sem perguntar pelo significado das mesmas, ou um indivíduo pensante, crítico que, perante cada encruzilhada prática ou teórica, pára e reflete, perguntando-se sobre o significado de suas ações futuras e,progressivamente, das ações do coletivo onde ele se insere?” (FERNANDO BECKER)
Torna-se necessário refletir uma vez mais sobre a nossa própria prática docente, se estamos encorajando o voo ou cortando asas, monopolizando nosso falar ou possibilitando o aluno de buscar o conhecimento e construir aprendizados, com criticidade ou apenas reproduzindo padrões de ensino-aprendizado. Perguntas surgem não somente para obter respostas, mas para levantar outras que irão nos inquietar e assim, qualificar e ampliar nosso próprio aprendizado.
Referencias:
-ALVES, Rubem. Gaiolas e asas. Disponível em http://www.rubemalves.com.br/gaiolaseasas.htm
-BECKER, FERNANDO. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. https://pt.slideshare.net/msabba/becker-epistemologias
- ESCOLA Democrática. 2010. (3 min.), color. Publicado por Andrea Trigueiro no You Tube. Disponível em: <https://www.youtube.com/results?search_query=escola+democratica>.