domingo, 26 de junho de 2016

      Um pouco de poesia, de reflexão e alteridade.
                       
  MUNDO SURDO

Hoje o mundo amanheceu surdo, menos eu.
Poderia gritar e ninguém ouvir.
Iriam pensar que eu estava louca, ou estranha.
Olhar-me-iam como se fosse algo inacabado
Mal constituído ou com problemas.

Hoje quis falar com alguém, contar sobre meu dia,
Sobre minhas emoções escondidas.
Mas ninguém iria me entender
Pois o mundo é dos surdos:
“Pra que essa gritaria?”...

Quis um abraço, um carinho, um “bom dia”.
Falei, falei e ninguém entendia.
Tentei imitar os gestos que faziam
Uma tortura, não conseguia.
Como me fazer ouvir?

Comecei a calar como eles
E minha boca se fechou.
Todos pensaram: “agora ela tem jeito!”
“Está igual a nós”... Terá sucesso
Terá sonhos, chances na vida.

Senti-me desprezada, excluída.
Queria apenas me comunicar
Dizer o que sentia.
Estudar falando, trabalhar cantando
Fazer tudo como sabia.

Uma janela se abriu:
Vinham falantes de todos os lados,
Relatando o que viram, o que queriam
Falávamos e nos entendíamos,
Como se nos conhecíamos.

E os que não falavam riam de nós
Pois dançávamos sem parar
Pois as músicas não ouviam.
Imaginavam-nos loucos
Na mais silenciosa agonia.
                                 Cláudia S. Kerber






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