quarta-feira, 27 de julho de 2016

Troca de afetos

   Quando uma criança está sob nossos cuidados, dia após dia, durante um ano inteiro, acabamos por nos afeiçoarmos a ela. Ainda mais se ela é pequena, como nos berçários. 
   Por mais que digamos, profissionalmente, que a criança é apenas nosso aluno, e está somente de forma temporária com a gente, no fundo, é como se fizesse parte de nossa vida. Com algumas temos maior afinidade do que com outras, que não nos cativam tanto, ou mesmo que nos desafiam.

 Talvez o coração maternal ou mesmo a necessidade física e emocional de afeto nos leve a este questionamento. Assim como temos pouca afinidade com alguns, por outros, sentimos como se fossem da família, gostando de abraçar e de estar junto.
   O que isto tem de errado? Será que se afeiçoar pelas crianças está errado?
  Existem crianças que cuidei no berçário ou no maternal há 10 ou mais anos, e ainda hoje, lembram de mim, acenam ou me abraçam quando as encontro.
  Acredito que ficar na memória e no coração dos alunos é muito bom: significa que não passamos em suas vidas em vão! Abrimos portas, fizemos laços, estruturamos os afetos.
   E a recíproca também é verdadeira!



terça-feira, 19 de julho de 2016

Diferenças: hipocrisia ou respeito?

   Muito tem se falado em aceitar o outro como ele é, sem distinções, respeitando as diferenças, principalmente nas escolas. Nós professores, somos os porta-bandeiras do respeito ao diferente, dando o exemplo de tolerância e com a mente aberta para tudo que se apresenta na atualidade, uma vez que somos, ainda, referência na formação de nossos alunos.
   Mas, na prática, ainda percebo um mar de preconceitos, com professores perplexos diante o diferente. Há poucos dias, a Rede Globo de televisão apresentou em uma novela das 23 horas, uma cena de amor entre dois homens, em pleno século XIX. A história é de valor histórico muito grande, pois trata da Inconfidência Mineira, como também é um retrato da sociedade da época. Porém, dois homens vivem um amor proibido para os padrões da época, e finalmente, após muitos capítulos, admitiram suas paixões e houve um beijo apaixonado e as cenas seguintes, com nudez de costas e o resto, ficou com a imaginação do telespectador, mas tudo de forma muito sensível e até romântica. No dia seguinte as redes sociais já barbarizavam a cena da novela.
   Na sala dos professores de uma das escolas em que atuo, duas professoras indignadas com as cenas, afirmando que eram um desrespeito com o público que assiste... Daí surgiram as perguntas: Por que a indignação, se o horário era tarde da noite, crianças deveriam estar na cama e adultos devem aprender a lidar com as diferenças. Questionamos as cenas de nudez feminina, escancaradamente exposta na TV aberta e cenas de sexo, embora somente sugestivas, em horários como das 18 ou 19 horas, tidas como normais e aceitáveis.
   De forma alguma faço apologia disto ou daquilo, mas penso que o professor é o primeiro que deve estar aberto às diferenças, sejam de gênero, opção sexual, características físicas ou aspectos sociais, econômicos ou raciais. Penso que já é hora de vivermos na prática o que falamos aos nossos alunos.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Confabular

   Sempre gostei da expressão: "Fulano está confabulando isto ou aquilo, para este ou aquele". Não que tivesse gosto em ver alguém confabular, mas por que remete à fábula.
  Uma fábula, em literatura, é uma história curta, muitas vezes pitoresca, onde objetos ou animais ganham vida e/ou falam e agem como seres humanos. Geralmente a fábula vem acompanhada de uma mensagem, uma moral, um sábio conselho ou digamos, a história tem duplo sentido com um direcionamento específico de aconselhar. 
  Na infância ouvimos inúmeras fábulas, aconselhando, entre parênteses, que é bom ir devagar, "sem muita sede ao pote', ou não subestimar os mais fracos, ou mesmo não ser arrogante pois "quem ri por último ri melhor", entre outras mensagens. As histórias são simples, populares, até ingênuas e infantis, mas não nos enganemos, afinal, falando de fábulas, são sempre inteligentes e auspiciosas.
  Voltando à palavra confabulando, que é sinônima de tramando ou articulando... Porém, confabular lembra fábula, que por sua vez lembra segundas intenções, de alertar, de se cuidar, de querer dizer algo por um modo não explícito. 
   Por isso, dizer que estão confabulando significa que estão criando uma história em torno de algo que se quer transmitir, um "rodeio" até chegar ao que realmente importa.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O que, de fato, aprendemos?


   Em vias de terminar mais um semestre, surgem as perguntas: o que de fato aprendemos? O que assimilamos para melhorar a qualidade de nosso trabalho como docentes e as aplicações que podemos fazer? E o quanto evoluímos como pessoas?


   Analisando a primeira questão, penso que o aprendizado se faz por conexões, juntando com o que já conhecemos - o aprendizado anterior, com as pequenas novas assimilações de cada tarefa, experiência, texto ou aula, construindo assim, o que aprendemos.
   Nosso trabalho como docentes está, na maioria dos casos na turma, baseado em uma larga experiência em sala de aula e por curso específico à nível médio, que fizemos há muitos anos atrás. Temos um conhecimento prévio, em termos de prática e qualificação, a ser considerado, porém a aquisição de um conhecimento embasado em conceitos teóricos e questionamentos reflexivos, torna, dia a dia, a nossa docência mais fundamentada e assim, compreendendo melhor todo o processo de ensinar, aprender e educar.
   Evoluir é um processo contínuo, a princípio positivamente, de nos tornarmos pessoas melhores, em todos os aspectos da vida humana. Estudar, ler, conviver, refletir, superar obstáculos, medos e "maquinações interiores", são meios que nos levam a uma evolução constante, seja intelectual, emocional ou socialmente.
   Concluindo, na busca por respostas, o psicólogo americano Carl Rogers, afirmava: 
"Por aprendizagem significativa, entendo, aquilo que provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é penetrante, e não se limita a um aumento de conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua existência."

Referências:
https://portaldovoluntario.v2v.net/posts/13390

sábado, 2 de julho de 2016

Expressividade


  Ser uma pessoa expressiva significa  revelar com clareza o que se pretende dizer, transmitindo, assim, o pensamento.
  Muitas crianças apresentam dificuldade para transmitirem o que desejam, sentem, o que lhes desagrada e o que gostam. O professor, em sua sensibilidade, pode estimular o aluno de tal forma que ele consiga se manifestar, buscando alternativas lúdicas que façam com que sua expressividade seja desenvolvida.
    Ao longo dos anos, em minha experiência com educação infantil, tenho lidado com muitas situações que nos desafiam. Aos nossos cuidados, são entregues crianças que não falam quase nada, que não compreendemos o que querem, mostrando-se apáticas, tímidas ou até revoltadas, pois esta também é uma manifestação, mesmo arbitrária, de algo que as angustia e não consegue revelar, entre outras situações. 
   Neste semestre, que está terminando, foram apresentadas possibilidades que podem ser usadas para desenvolver a expressividade nas crianças. As interdisciplinas de Música, Ludicidade e Literatura, com seus conteúdos, e principalmente, com a janela que abriram em nossa mente, ofereceram formas de trabalhar a comunicação e a expressão com os pequenos. 
   Histórias, poesias, dramatizações e parlendas podem ser utilizadas de forma dinâmica e criativa, pois um aluno com dificuldade de se integrar, por exemplo, pode começar a fazê-lo a partir da identificação com um personagem. O próprio "Patinho feio" não era feio ou "errado", apenas estava deslocado, mas ao encontrar semelhantes, sentiu-se lindo como seus irmãos e sua mãe. 
   Brincadeiras e jogos também servem para aproximar colegas, como dar as mãos para aquele que desconhecemos, se sentir parte integrante de um grupo, enfim, socializar, aprendendo a conviver. Atividades em grupo, em que um depende do outro, aproximam e geram confiança. Podemos compreender isto quando observamos as brincadeiras na escola, assim como constata a fonoaudióloga Cyrce Andrade:
   "É preciso enxergar o brincar como a maneira que os pequenos tem de produzir cultura e a forma de expressão da infância por excelência." "...a escola, por ser um dos raros lugares que os pequenos tem de conviver com os colegas hoje, seja um ambiente que privilegie o brincar em grupo." 
 A música oferece inúmeras possibilidades de aumentar as formas de expressão. O próprio canto já promove um "sair de si", um "ir além" do que a timidez permite. O canto espontâneo, natural desde os primeiros balbucios do bebê, como nos diz Parizzi, deve ser valorizado: 
"O canto espontâneo é uma das mais importantes formas de expressão da criança, tão significativa quanto o desenho, a gestualidade e o comportamento infantil."  
  A música, conforme o direcionamento, pode induzir à dança, à meditação, imitações, rimas e repetições, faz de conta, brincadeiras de roda, entre outras possibilidades.
   Cabe, portanto, ao professor perceber as dificuldades de seu aluno e conduzir na busca pela expressividade.

Referências:

Parizzi, Maria Betânia - O canto espontâneo da criança de zero a seis anos: dos balbucios às canções transcendentes.
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/2006%20O%20canto%20espont%C3%A2neo%20da%20crian%C3%A7a%20de%20zero%20a%206%20anos.%20PARIZZI%20(1).pdf

"Brincar é a forma de expressão das crianças"(Cyrce Andrade)
Revista Nova Escola, edição de setembro de 2010, por Beatriz Vichessi, encontrada em:
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Brincar%20%C3%A9%20a%20forma%20de%20express%C3%A3o%20das%20crian%C3%A7as.pdf