sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Multiplicação e divisão no Berçário


Trabalho com turma de Berçário 2, crianças em torno de dois anos de idade. Pensar em multiplicação e divisão para esta faixa etária precisa de um olhar um tanto especial para a fase em que se encontram.
Nesta fase as crianças começam a perceber que são seres independentes, descobrindo suas capacidades e as possibilidades que o mundo apresenta. Começam a comer sozinhas, falar, tirar ou colocar o calçado, experimentam subir no escorregador, exploram tudo que encontram e encantam-se com diversas atividades como cantar, dançar, coordenar movimentos, empilhar objetos, entre tantas coisas.
A rotina torna-se uma maneira eficaz e prazerosa de desenvolver aspectos importantes na vida da criança. Como o texto “Multiplicação e divisão a toda hora” (Revista Nova Escola) sugere, todos os momentos são propícios ao aprendizado, inclusive noções básicas e primárias de multiplicação e divisão. Não é necessário que se faça uma atividade específica para que a criança assimile que podemos dividir ou multiplicar. Um exemplo se dá na hora do café ou do lanche, quando cortamos o bolo em 10 pedacinhos. O bolo está inteiro e 10 crianças querem comê-lo, em quantos pedaços teremos que cortar? Surge, talvez, o primeiro problema a ser resolvido. Cortamos o bolo e distribuímos um para cada um. Automaticamente criamos uma fração, 1/10.
Obviamente que as crianças não vão compreender os termos que estamos pretendendo, mas percebem que existem possibilidades e soluções para dar um pedaço para cada um a partir de um todo.
A multiplicação se dá em situações igualmente da rotina, como quando brincamos no parquinho e as crianças fazem uso de potes de sorvete vazios para brincar e precisamos de pazinhas e garfinhos. Temos dez crianças e duas preferem ir ao balanço, três querem brincar no jacaré e as outras cinco querem uma pá e garfo. Então são cinco vezes dois complementos cada uma. Tenho que ir buscar dez objetos para acompanhar o pote das crianças. Este raciocínio ainda não vai ser feito literalmente pelas crianças, mas posso oralmente fazer este questionamento, para captarem como funcionam as operações matemáticas, de forma lúdica e espontânea, sem maiores pretensões.
Acredito que a multiplicação e a divisão fazem parte da vida da criança pequena, mesmo sem ela saber ou o professor interferir. Quando brincam com carrinhos um deles pega na caixa e distribui naturalmente um para cada colega, quando brincam com animais de borracha e há duas girafas, três cavalos, cinco elefantes, por exemplo, eles naturalmente dividem os elefantes entre os colegas.
Quando pensamos em usar a rotina de forma proveitosa, enriquecemos o dia a dia, pois toda hora é momento de aprender e construir as noções matemáticas, como um tijolinho sobre outro tijolinho.

Referencias:
Multiplicação e divisão a toda hora, Revista Nova Escola (acesso em:



domingo, 20 de novembro de 2016

Consciência Negra

   Hoje é dia da Consciência Negra. Então, você pergunta "por que precisa deste dia?" Da mesma forma que existe o Dia da mulher, por exemplo. Servem para lembrar e tomar consciência: do valor, da história ou da cultura.
 Mas, acima de tudo, nós, “brancos, nórdicos, arianos ou europeus” (ironizando), temos que revisar nossos conceitos, relembrar as injustiças históricas, o abuso e atrocidades cometidas, hoje justificadas sob o pseudo pretexto da ignorância do passado, na verdade, sob o jugo da soberba, da "superioridade" e do dinheiro. 
  Os negros estavam em suas terras, pacificamente vivendo na mãe África (segundo a própria ciência) e foram levados a força para trabalho escravo em países estranhos, arrancados de suas famílias e sujeitos a toda forma de crueldade e exposição. Acha pouco? Depois da libertação, foram largados a própria sorte, ocupando terras em barrancos para ter onde morar, sem estudo, assistência e trabalho. E você ainda chama o negro disto ou daquilo, vomitando sua arrogância? Ou é apenas um ignorante se escondendo atrás de sua prepotência branca? Pense duas vezes antes de colocar rótulos. 
  Como sempre, acredito que a educação muda o pensamento, e como dizem:"pensamentos mudam o mundo." Neste caso, é a consciência que muda sua cabeça. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Fatores de aprendizado

     Talvez o que aprendemos nas aulas de história não era bem assim. Talvez o mundo seja bem maior do que imaginamos em nossas aulas de geografia. Talvez nunca fizemos uma experiência em Ciências. Talvez a esquina não seja o limite de nossos sonhos, nem a vida a terça parte do que pode ser.
     Para a criança o mundo é do tamanho do que ela conhece. Acredita no que os adultos ensinam. Ela assimila "verdades"e toma partido do que confia. A criança lê, ouve, escreve, experimenta, faz associações. Ela vivencia, adquire conhecimento e, assim, constrói o aprendizado.

    O aprendizado efetivo precisa ser arquitetado sobre bases diversas, considerando a realidade das crianças, o método utilizado, suas vivências, estímulos, apoio familiar e até fatores como alimentação e saúde essencial. Nem todo aprendizado é construído igual. Como falar de um mesmo assunto, com experiências pessoais diferentes e desejar o mesmo resultado? 
    Talvez eu não tenha compreendido, em meu tempo de escola, muitos conteúdos que foram repassados. Talvez nunca tive coragem de tirar uma dúvida. Talvez nem sonhe que o mundo é tão grande e tão diferente em cada lugar. Quem sabe matemática é fácil. Quem pode dizer qual foi minha conexão com o novo. Quem sabe se não entendi tudo errado...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Curiosidade infantil

     
     Uma das grandes características da infância é a curiosidade. Muitas vezes confundimos curiosidade com peraltice ou intromissão, não raro dizendo: “Joãozinho, deixa de ser curioso!” Sem querer estamos minando um dos maiores portais do conhecimento.
     Ser curioso é desejar tudo ver e tudo saber. A curiosidade move o pensamento a procurar uma resposta, mas às vezes, antes de completada, já surge outra e mais outra indagação. O que seria da humanidade se não fossem os curiosos? Talvez não tivessem descoberto a penicilina, ou a lâmpada, ou mesmo continuaríamos achando que voar é somente para pássaros.
     Uma criança saudável é naturalmente curiosa: quer saber de onde vem o som, quem está falando no telefone e como foi parar lá dentro, porque cai água do céu, porque o sol é amarelo, porque as formigas caminham juntas, porque, porque, por que... E vão além: como se faz isso, como se faz aquilo, onde tem isso, quando aquilo lá...
    A curiosidade é inerente ao ser humano e por ela vamos além, buscando respostas e atravessando as fronteiras do que é conhecido. Estimular a curiosidade infantil, incentivando e promovendo experiências é, além de um prazer enorme, fomentar que novos cientistas e questionadores surjam. Assim como Einstein, Galileu, Pasteur, Santos Dumont ou Da Vinci foram guiados pela curiosidade, nossos alunos também podem seguir seus desejos de ver e de saber. E, por conseguinte,  com suas aguçadas visões de mundo, fazer suas vidas muito mais incríveis.




sábado, 5 de novembro de 2016

Matemática lúdica


   As operações aritméticas que se iniciam nos primeiros anos do ensino fundamental podem ser estruturadas cognitivamente na educação infantil, pois a criança pequena já constrói as bases em seu dia a dia nas brincadeiras e interação com os colegas.
   As estruturas mentais vão se erguendo a partir de experiências espontâneas e atividades orientadas por um adulto, no caso um professor, que pode desafiar os alunos a fazer raciocínios matemáticos e realizar as primeiras operações, de forma simples e contextualizada no que ele está fazendo.
   Como trabalho com crianças de dois anos de idade, percebo a adição e a subtração nas brincadeiras mais cotidianas e em canções ou histórias. Obviamente que nesta idade não sabem o que significa 1 + 1 ou 3 - 1, por exemplo, mas ludicamente fazem estas operações.
   Posso citar como exemplo quando estão tomando o café da manhã e ofereço uma rodelinha de banana. Quando comeram o pedaço, ofereço mais dizendo mais um.  Ao comer a segunda rodela digo “O Paulo comeu duas bananas”, mostrando com os dedos. Do mesmo modo quando coloco vários gomos de bergamota na frente da criança, digo: “O Caio tem um monte de bergamota!” Ao comer um digo: “O Caio tem um gomo a menos... menos um...” até que comeu todos e exclamo “Onde estão os gomos da bergamota que tinha aqui?”, claro que vão dizer “Caio comeu”, mas digo “O caio tinha um monte de bergamota e agora não tem mais. Ele comeu todos.” Pode ser simples? Pode sim ser extramente simplório o modo de trabalhar matemática com os pequenos, mas já elaboram esquemas mentais, embora rudimentares, mas efetivos.
   Quando brincam sempre tem uma criança que recolhe todos os carrinhos, por exemplo, embaixo do braço e no colo, não deixando muitos disponíveis para os outros, causando desentendimentos entre os pequenos, pois vai “tomando” todos os brinquedos. Nestas situações aproveito e digo: “Nossa, o Moisés tem um monte de carrinhos e os colegas não tem nenhum pra brincar. Vamos dar um para cada um?” Sugiro que o aluno distribua os carrinhos, um para cada aluno, e no fim, quando distribui, todos ficam felizes. Digo então: ‘Viva! O Moisés tinha um monte e agora cada criança tem um.”
   Nas canções e histórias acentuo as operações aritméticas mentais, como na canção “Cinco patinhos” da Xuxa, onde percebem as quantidades nos dedos, que representam os patinhos, e à medida que a mamãe constata a falta de um, diminui o número de patinhos.
   Os materiais alternativos são grandes aliados das construções operacionais, pois podemos usar tampinhas de garrafas pet coloridas, por exemplo, para fazer jogos de adição e subtração.

 “Experiências mostram que o uso de material variado contribui para a   aquisição dos conceitos, portanto todos os materiais disponíveis podem ser usados pelo professor, começando desde tampas de garrafas e pedrinhas...” (Bittar,  Freitas e Pais)

    Um exemplo seria um jogo com dado, que também pode ser de material reciclado, grande e colorido, muitas tampas coloridas, fundos de garrafas pet para armazenar as tampinhas. Joga-se o dado e digamos que Lucas tira o um, então pode pegar uma tampinha. Marcos pega cinco então pode pegar cinco tampinhas. Podem-se fazer duas ou três rodadas e no final soma-se a quantidade de tampinhas de cada um. Vence quem juntou mais tampinhas. Provavelmente os menores não irão enfatizar a quantidade numérica, mas a quantidade em termos de volume, o “montinho” maior de tampas. Crianças do jardim, por exemplo, já irão compreender, mas no berçário ou maternal irão associar mais com muito, o que não deixa de ser uma pré-operação.
   Penso que o professor da educação infantil acompanha o crescimento e o desenvolvimento das crianças, então cabe a ele perceber como a criança está construindo as noções matemáticas e onde utiliza, no dia a dia. Para tanto, precisa ter a sensibilidade de perceber onde ela se manifesta e onde pode aproveitar o momento para fazer uma intervenção, com o intuito de dar significado a toda experiência dos pequenos.
   Do mesmo modo, deve fazer uso de inúmeros recursos práticos e criativos para elaborar estratégias de adquirir conhecimento, de forma lúdica e construtiva. 


Referencias
   Bittar, Marilena. Freitas, José Luiz Magalhães de. Pais, Luiz Carlos.Técnicas e Tecnologias no Trabalho com as Operações Aritméticas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Em: A matemática em sala de aula. Editora Penso. 2013.
                                      

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Fronteiras: vida e morte

  
  Estando em tempo de Finados, cabe a reflexão sobre vida e morte. O tema, particularmente interessante, vem à mente especialmente nesta época. Não por coincidência, faço parte do grupo do Projeto de Aprendizagem "Existe vida após a morte?". 

  Este é um tema que me chama a atenção, talvez por ter presenciado a morte de familiares ainda jovem ou pela mera, mas aguçada, curiosidade acerca destes assuntos. 


    No Projeto de Aprendizagem Existe vida após a morte, questionamos se e o quê existe após o último suspiro, biologicamente falando. Iniciamos nossa investigação com as premissas: "O que é vida", "O que é morte" e "Existe vida após a morte?", pois uma leva à outra, complementando a resposta com novas indagações. Ou seja, por mais que busquemos uma resposta, existem apenas suposições, crenças, "certezas" pessoais e dúvidas incontáveis.
   A Biologia explica a morte física como o cessar das funções vitais no organismo vivo, constatado principalmente pela parada cardíaca e/ou respiratória e morte cerebral. Sabemos o destino do corpo físico, perecível como toda matéria orgânica, mas a mente inquieta não se contenta com a finitude e busca, através dos milênios, um algo a mais que ultrapasse esta fronteira.

   Desde os tempos mais remotos, o ser humano busca a transcendência, almejando ansiosamente por um motivo maior, uma força ou ser superior que permitiria que a morte não fosse o fim, mas uma passagem, uma transição que asseguraria a não finitude de tudo que somos. Pode-se justificar o desejo de uma vida além-túmulo, pois nesta vida fazemos planos, criamos laços afetivos, desenvolvemos nosso intelecto, aperfeiçoamos habilidades e talentos, superamos adversidades, fraquezas, mazelas físicas e emocionais, e arduamente aprendemos lições valiosas como "o segredo da felicidade" (ou mesmo da infelicidade), portanto, seria muito "justo" se tudo continuasse... Que decepção tem o ser humano, ao olhar sua vida inteira, e ver que tudo se acaba!
  No Projeto de Aprendizagem "Existe vida após a morte", procuramos estabelecer um paralelo entre o que dizem algumas religiões acerca do assunto, uma vez que todas estão calcadas nesta fronteira desconhecida e instigante que é a morte. Do mesmo modo, procuramos ser realistas, analisando inicialmente a visão da ciência sobre a vida e a morte, para partirmos do que é comprovado para o que é suposto, sempre dentro da lógica do conhecido para o desconhecido.
    Outra questão que o dia de Finados nos faz pensar, como professores, é sobre como tratamos do assunto  morte com as crianças, como respondemos suas perguntas e como separamos o que é fato do que é crença. A questão da morte é frequentemente respondida com respostas falsas e ilusórias, mascarando a realidade com o intuito de poupar as crianças, quando na verdade, é tão natural quanto nascer ou crescer, fazendo parte do ciclo da vida. Porém temos estes meandros justamente porque dentro de nós mesmos estas questões não estão bem esclarecidas e temos, inconscientemente, medo, fobia ou  insegurança ao tratar o assunto. A sensação que se tem é que ao falar em morte vamos atrair tristeza ou mesmo, de forma supersticiosa, ela mesma. A morte pode ser trabalhada com os pequenos sob diversos aspectos, seja pelo lado da ciência, das questões sociais de tempo e passado, da religiosidade e principalmente, pelo lado existencial, das emoções e relações interpessoais. 
   O Projeto "Existe vida após a morte?" ainda está em fase de elaboração, mas já em vias de argumentar as inquietantes perguntas: "Existirá algo (no caso, vida, e de que forma) quando atravessarmos a "porta" final? O que será de nós? Aonde vamos?" Porém não haveremos de responder "sim, existe vida!", mas "talvez...", decepcionando, novamente, quem anseia por uma resposta conclusiva e segura da maior dúvida da humanidade.


  Como disse o dramaturgo grego Eurípedes, ainda na Antiguidade, "Quem sabe dizer se a vida não é o que chamam de morte e a morte não é o que chamam de vida?"



Referências: