-Como é o meu aluno, como vive e percebe o mundo?
-Como possibilitar a este aluno aprender o que quero ensinar?
-Como farei para que meu aluno reflita sobre o que está assimilando?
-Como meu aluno agirá a partir deste aprendizado, transformando seu saber?
-Que critérios usarei para avaliar o processo de aprendizagem, sem ser genérica ou injusta?
Estas cinco perguntas devem fundamentar meu planejamento, tornando-o uma responsabilidade social e um ato político-pedagógico.
Planejar é tão importante quanto aplicar. Ao planejarmos nossas práticas pedagógicas, devemos levar em conta cinco aspectos:
1) É necessário conhecer a realidade sociocultural do aluno. Conhecer a realidade sociocultural em que os alunos estão inseridos será o ponto de partida para o planejamento do trabalho docente e discente. Deve ser analisado este aspecto para o melhor engajamento da prática com a realidade em que vive o aluno. Devemos usar exemplos do dia a dia, relacionando com o que lhes é peculiar. Ex.: se o aluno é do interior e convive com o campo, usar elementos do seu meio, como trator ou animais. O aluno da periferia de uma grande cidade terá outras vivências, também diferentes.
2) Verificar qual é o grau de aprendizagem dos alunos, baseado na realidade sociocultural. Verificar, além do retrato sociocultural do educando, as características de aprendizagem do grupo, observando as especificidades do conteúdo em estudo e das suas relações com as realidades natural e social. Se os pais são analfabetos ou não há o incentivo à leitura, ou mesmo aos estudos, em casa, por exemplo, o professor terá que direcionar sua prática no sentido de aproximar aquela criança da leitura. Do mesmo modo, situações de violência doméstica farão que o aluno internalize suas vivências, com abalos psico-emocionais e, possivelmente, refletirá no aprendizado.
3) Superar e temporalizar o conhecimento acadêmico veiculado pela escola, indo além da reprodução deste.Todo objetivo de ensino-aprendizagem deve ser coerente com o objetivo maior da escola, “proporcionando meios para a formação do homem crítico e criativo, independente e competente, que domine um corpo de conhecimentos que propicie a assimilação crítica e consciente da ciência em estudo (matéria de ensino) e toda a problematicidade do contexto social e seus múltiplos conflitos e contradições.” Ou seja, não basta criar objetivos para os conteúdos, mas é preciso fomentar a criticidade, fazendo relações com o mundo em que vivemos.
Ao ensinarmos determinado conteúdo, devemos pensar no que tem a ver com o que queremos na formação desta pessoa, como cidadão e ser humano. Sempre devemos direcionar as práticas para cumprir o objetivo maior que nossa escola se propõe, indo além do simples repasse de informações.
4) Aplicar, na prática pedagógica, a premissa: “O pensar para repensar, o repensar para o agir e o agir para transformar.” Precisamos pensar em como se dará o estabelecimento de propostas de situações didáticas reflexivas, visando o alcance e a superação do conteúdo.
Torna-se essencial aplicar o planejamento com a responsabilidade da organização de procedimentos didáticos concretos e eficazes do ponto de vista do ensino e da aprendizagem.
O aluno, além de assimilar o conteúdo terá que ser desafiado a pensar sobre aquilo, desequilibrando o que pensava a respeito e reorganizando para transformar o conhecimento adquirido. Ao aplicarmos o que planejamos, não devemos dar respostas prontas, mas questionarmos o aluno durante o processo, para que possa pensar sobre isso, formulando ideias a respeito. As conversações, a troca de experiências e interações tornam-se importantes para o aluno pensar, refletir e agir.
5) É preciso repensar o processo avaliativo, substituindo o sistema quantitativo por verificação da aprendizagem concreta do aluno. É necessário substituir a "cultura da medida do conhecimento" que resulta sempre na "cultura do conhecimento quantificável", na "cultura da nota", pela cultura da aprendizagem concreta. Esta avaliação tem por base os quatro processos anteriores deste quadro. Um aluno sem estímulo para os estudos em casa, por exemplo, ou para a leitura, terá um aprendizado mais lento que aquele aluno que convive com leitores e é estimulado constantemente. Todo aluno tem seu tempo, grau de aprendizagem e histórico social e familiar diferente, e é fundamental levarmos em consideração.
Referências:
RAYS, O. A. Planejamento de ensino: um ato político-pedagógico.
Cadernos didáticos: Curso de Pós-Graduação em Educação/ Universidade Federal
de Santa Maria/RS, 1989.