terça-feira, 17 de abril de 2018

Extremos pedagógicos

     Minha geração foi ensinada dentro de uma concepção epistemológica empírica, onde íamos à escola sem "nada" saber... Julgávamos sermos crianças vazias, sem nenhum conhecimento anterior e sim, abertas para nos "enchermos" de  saberes, que somente o professor poderia transmitir. Também fazíamos uso de cartilhas pré-programadas e mantínhamos uma rígida conduta, metódicos e silenciosos.
     Iniciei meus estudos em 1976, em plena Ditadura Militar, período caracterizado pela censura, disciplina  austera e obediência. Frequentei Grupo Escolar, passei por experiências memoráveis com recursos arcaicos, mas importantes para a época. Naquela concepção de ensino eram comuns as reproduções como carimbos e pintura de desenhos mimeografados, onde era valorizado colorir de forma uniforme, sem liberdade de expressão. O letramento e alfabetização seguiam o mesmo fio condutor de pensamento. Reflexo de um tempo ou costume? Adestramento? Ordem? Ou uma forma tradicional de conduzir uma escola, uma equipe e a prática pedagógica? 
      Penso que todas essas possibilidades fazem sentido e se relacionam entre si. Porém nem todas as escolas seguiam esta linha. Em 1921 surgia na Inglaterra uma escola completamente diferente: a Escola Democrática.
     A Pedagogia Libertária se caracteriza por abordar a questão pedagógica diante de uma perspectiva baseada na liberdade e igualdade, eliminando as relações autoritárias presentes na escola tradicional.“Uma escola democrática é uma escola que se baseia em princípios democráticos, em especial na democracia participativa, dando direitos de participação iguais para estudantes, professores e funcionários.”( TOSTO)
     Nestas escolas os alunos são o centro do processo educacional, “...engajando os estudantes em cada aspecto das operações da escola, incluindo aprendizagem, ensino e liderança. Os adultos participam do processo educacional facilitando as atividades de acordo com os interesses dos estudantes.”(TOSTO)
    “Na escola democrática o professor deixa de ser autoridade ou transmissor do conhecimento para tornar-se mediador das relações interpessoais e facilitador do descobrimento.” (TOSTO) 
     O modelo tradicional de escola retrata o ambiente de trabalho por setores. Na escola democrática não há salas nos moldes tradicionais. Do mesmo modo, as propostas seguem outra perspectiva.

     Temos aqui dois extremos em termos de escola e concepção epistemológica. Na escola tradicional  atual também existe o pensamento apriorista, "A priori", onde a capacidade de aprender é considerada inata no sujeito, tendo apenas que deixar que ele aprenda por si só, com o professor sendo um mediador do processo de aprendizagem.
     Na atualidade as práticas pedagógicas, em sua maioria, seguem os princípios construtivistas, dentro da Pedagogia Relacional, com o aluno sendo o sujeito do aprendizado e o professor é um facilitador da aprendizagem. O que mais importa não é o conteúdo, mas o sentido deste conhecimento para o aluno. A ação do sujeito sobre  o objeto conduz ao aprendizado. O enfoque em temas de interesse, projetos de estudo e aprendizagem e juntamente com uma gestão democrática fazem com que o aluno seja protagonista e construtor de seu aprendizado. 
     Ensinamos para a igualdade e liberdade, possibilitando voos maiores com muita espontaneidade, participação, criatividade, criticidade e consciência.

Referências:

- BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Educação e Realidade, Porto Alegre, p.89-96, 01 jun. 1994. Semestral. 19(1). 
- MACEDO, Lino de. O Construtivismo e sua função educacional. Educação e Realidade, Porto Alegre, p.25-31, 01 jun. 1993. 18(1). 
-  TOSTO, Rosanei. Escolas Democráticas Utopias ou Realidade. Revista Pandora Brasil, ISSN 2175-3318. v. 4. 2011. 
- VARELA, Julia et al. A Maquinaria Escolar. Teoria & Educação, São Paulo, n. 6, p.68-96, 1992. 


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