Ao
pensar as propostas para o Berçário Dois, turma em que atuo, tenho que levar em
consideração a fase de descobertas e possibilidades, mas limitadas. Muitos
conteúdos são permeados na rotina, visto a importância e influencia que exerce sobre
a criança, que necessita de organização no seu dia a dia. Mas as atividades
podem, também, ser planejadas, com objetivos específicos, dando suporte para
aprendizados maiores que irão ocorrer gradativamente no desenvolvimento.
As
formas estão presentes em toda parte, nos brinquedos, no prato do almoço, na
caixa de sapatos. Nesta faixa etária, dois anos de idade, segundo Piaget, as
crianças se encontram na fase de desenvolvimento sensório-motor e não faz sentido, por exemplo, eu apresentar um bambolê
e dizer que é um círculo, ou um pedaço de bolo e dizer que é um quadrado. Bem
menos se fosse partir para o abstrato, para o representativo, como sugerindo um triangulo para desenhar uma casa.
As
crianças pequenas precisam de objetos palpáveis, para sentir a espessura, o
peso, a textura, temperatura, entre outros aspectos. Blocos geométricos de
madeira podem ser oferecidos e ela vai construindo uma casa, um muro, uma
igreja ou o que sua imaginação mandar. Peças de encaixe também serão usadas
para erguer torres ou construir escadas. Caixas de leite forradas se tornam pesados
tijolos e uma tampa de balde plástico se torna o volante de um automóvel.
O
contato com materiais variados, considerados sucata, estimula a imaginação, a
criatividade e promove a percepção de formas, mesmo que indiretamente, pelo
manuseio e faz de conta.
A
criança percebe o espaço a partir do seu próprio corpo, pois ele será parâmetro
para saber se algo está longe ou perto, se algo está atrás ou na sua frente. As
noções de lateralidade podem ser trabalhadas em brincadeiras corporais, como o barquinho, onde as crianças, frente a
frente, se dão as mãos e balançam “pra lá e pra cá”. A tradicional brincadeira
do Passa passará exerce a função de
abrigar, envolver, pertencer a um novo espaço. Os bambolês podem ser explorados
usando papel crepon preso em tiras compridas ao redor e pendurados como móbile,
criando espaços lúdicos dentro do círculo de tiras coloridas. Outra utilização
dos bambolês pode ser envolvendo três ou quatro crianças e fazê-las caminhar em
grupo, com a limitação imposta. Circuitos realizados com obstáculos e pistas
geométricas também são interessantes para a orientação espacial. Gosto muito de
túneis, seja em brinquedos específicos ou construídos com mesas ou cadeiras. Da
mesma forma, brincar de cabana,
usando lençóis, proporciona uma percepção de limite e do “fazer parte” de um
espaço. Caixas de papelão oferecem inúmeras possibilidades de trabalhar a
percepção espacial, seja apenas sentando dentro e assim, percebendo o espaço
que o seu corpo ocupa, seja transformando em um castelo ou um carro.
Na
rotina o espaço também pode ser explorado, como percebendo o lugar que cada um
ocupa na mesa ou no colchonete que é usado para dormir, por exemplo.
Conforme
o patamar de desenvolvimento as atividades são espontâneas, usando materiais
alternativos e possibilitando a livre exploração dos mesmos, mas na medida que
avançam, desafios maiores podem ser propostos. Montar quebra-cabeças gigantes
ou brincar de “Coelho sai da toca” são desafios prazerosos que orientam a
percepção espacial. Quanto as formas
geométricas, mais tarde, ainda na educação infantil, podem fazer dobraduras,
origami, construir maquetes, trabalhar o tangram, usar o geoplano ou observar
obras de arte com formas geométricas , até fazendo releituras.
Referências:
- PIRES, Célia
M. C. Espaço e Forma: a construção de noções geométricas pelas crianças das
quatro séries iniciais do Ensino Fundamental. São Paulo: PROEM, 2000.
-Tortora, Evandro. ESPAÇO E FORMA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA COM PROFESSORES ATUANTES EM
FORMAÇÃO. Encontro Nacional de Educação matemática. 2013.