O brincar pode ser simples e espontâneo. Para brincar não é preciso brinquedos caros, nem coloridos, nem sonoros. Para brincar e promover uma infância feliz e cheia de aprendizados, basta deixar a criança explorar livremente o mundo em volta, oportunizando a manipulação de objetos diversos e o contato com a natureza.
Esta percepção norteia o projeto Brincar sem brinquedo, desenvolvido com minha turma de berçário, no estágio supervisionado.
Tenho defendido que para que aconteça o brincar na escola não são necessários grandes investimentos financeiros, nem adquirir muitos brinquedos industrializados, geralmente excessivamente coloridos e barulhentos. Também defendo a ideia de que estar em contato com a natureza favorece aprendizados, e que esta pode ser levada para dentro do espaço escolar.
Em meus momentos pedagógicos tenho enaltecido e quase que exclusivamente, o uso de materiais alternativos, ou seja, o não-convencional, o descartável, o rústico, o simples e de uso cotidiano. Seguem-se brincadeiras que exploram tacos de madeira, cuias de chimarrão, potes plásticos, talheres, pneus, elásticos, bolas de retalhos, minhocas de meia, galões de água, caixas de ovos, entre tantos outros recursos. A natureza também oferece matéria prima para rasgaduras, como cascas de árvore e folhas, como a da bananeira, quando seca, por exemplo. Do mesmo modo, podem explorar sementes como de funcho na haste da planta, ou galhos secos e pinhas de pinheiro.
Este brincar se assemelha com o de nossa infância, que era mais espontâneo e tínhamos que criar nossas brincadeiras, com pouco acesso aos brinquedos industrializados. Penso que é possível fazer um resgate deste cenário nostálgico, da cozinha de nossas avós ou do quintal de casa, sob uma árvore, brincando na terra e com o que tínhamos a disposição. Isto não significa que tenhamos que anular o brincar contemporâneo, mas aliar ao simples espontâneo. Este brincar heurístico (derivado do grego eurisko: descobrir ou alcançar a compreensão de algo.) conecta com a natureza, fonte de criatividade, e com o próprio eu da criança, pois ela passa a ser protagonista de suas brincadeiras, conhecendo, inventando e transformando, por meio da sua imaginação criadora.
“Os brinquedos chamados heurísticos proporcionam à criança a possibilidade de explorar objetos simples do dia a dia de forma que possam ter a oportunidade de expandir suas ideias, sua criatividade, suas percepções sobre o mundo e suas sensações.” (Lacerda)
Posso relembrar como era minha infância, e fazer associações em minha prática docente, visando aproximar o brincar simples ao complexo mundo industrializado de hoje:
“Na minha infância, nos idos anos 1970, as brincadeiras eram simples, rústicas, no pátio de casa ou da escola, nas árvores do matinho aos fundos, na escada, no sótão ou no porão, onde podíamos ser crianças com liberdade e imaginação... Como foi rica minha infância, pois me foi dada a oportunidade de criar, interagir no meio em que vivia, explorar os espaços da casa e da escola e ser criança, plenamente! Feliz de quem olha pra trás, no tempo, e vê lá, uma criançafeliz!” (http://claudiasimoneblogpead.blogspot.com/2015/11/brincando-e-resgatando-crianca-interior.html)
Acredito que é possível proporcionar às crianças das escolas infantis um contato maior com a natureza e com objetos e materiais simples, pois somos mediadores, cabendo a nós tornar isto realidade: resgatar a simplicidade das coisas, transformando em ricos aprendizados.
Referências:
Lacerda, Mariana. Brinquedos heurísticos: incentivo acessível para o brincar natural. Na pracinha. 2016. Acesso em: http://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar-natural/