sexta-feira, 18 de maio de 2018

EJA: uma ação libertadora

   
   
     A Educação de Jovens e Adultos é um desafio para todos que buscam a escolarização em uma fase posterior, na vida adulta. Mas quem é este aluno?
     O  sujeito de EJA é um adulto, com experiências de vida, que faz parte de um grupo social e cultural de exclusão, que ficou boa parte de sua vida à margem da escolarização. Este aluno sabe que a educação é necessária e encara o desafio pessoal de buscar a escolarização. Digo desafio, pois este aluno, na maioria das vezes, sente-se deficitário em relação às outras pessoas, motivo de vergonha para ele. Conhecemos situações de desconforto e constrangimento que experimentam analfabetos adultos em situações corriqueiras como pegar um ônibus ou entender uma receita médica, por exemplo. Ao pedir ajuda a outro adulto ele se sente inferior e se retrai.
     O aluno adulto  tem consciência de que precisará se esforçar, e comumente, não acredita que será capaz de aprender. Esta insegurança se junta à dificuldade de compreender regras e peculiaridades do mundo escolar, por não ter treinado desde criança. Ou seja, a escola é algo novo e de certa forma, difícil para este aluno. 
     Temos também que considerar que o funcionamento intelectual do aluno adulto é diferente do que da criança, que se encontra ainda em formação. As estruturas psíquicas são diferentes e requer outra metolodologia de ensino. Aliados ao funcionamento intelectual encontram-se as vivências que este aluno já teve, ou seja, já conhece o mundo e tudo já tem um significado.
    O aluno de EJA sabe que estudar pode ser um “divisor de águas” em sua vida, pois fará parte da sociedade letrada e passará a compreender os símbolos que representam o mundo. Portanto, pode-se dizer que a escolarização deste adulto é uma ação libertadora, uma nova forma de ser e estar no mundo. 
    Ao professor de jovens e adultos cabe perceber estas dificuldades e adaptar sua prática para chegar até este aluno, mediando e oportunizando as ferramentas necessárias para o aprendizado nesta fase da vida.

Referências:

OLIVEIRA, MARTA KHOL. JOVENS E ADULTOS COMO SUJEITOS DE CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM. IN: REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO SetOut/Nov/Dez 1999 n.º 12. Trabalho apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999. 

VARGAS, PATRÍCIA GUIMARÃES; GOMES, MÁRIA DE FÁTIMA CARDOSO. APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE JOVENS E ADULTOS: NOVAS PRÁTICAS SOCIAIS, NOVOS SENTIDOS.
In: Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 39, n. 2, p. 449-463, abr./jun. 2013.


domingo, 13 de maio de 2018

Aquisição da linguagem segundo Piaget e Vigotsky

Piaget

     Presencio o início da linguagem oral nas crianças que, gradativamente, passam do balbucio e algumas sílabas pronunciadas a pequenas palavras que repetem ao ouvi-las e outras que revelam seus desejos e desagrados, como uma forma de expressarem o que querem ou pensam.
     Percebo que prestam muita atenção ao que falo e imediatamente tentam repetir, alguns logo conseguindo , outros ainda em desenvolvimento deste processo.

Vigotsky
     Procuro realizar atividades que estimulam este desenvolvimento, fazendo uso de pequenas canções na rotina ou em momentos específicos, e orações na hora das refeições. Estas canções possuem ênfases em rimas, vogais ou apenas a última sílaba, fazendo conexões entre o que ouvem e falam, e a própria repetição.
     Podemos realizar nossa pratica pedagógica analisando as concepções de Jean Piaget e Lev Vigotsy quanto à aquisição da linguagem.

                 PIAGET                                               VIGOTSKY

-A maturidade biológica e cognitiva da criança vai surgindo depois de um processo de ouvir, assimilar o que ouviu, reproduzir com os lábios, fazer balbucios e por fim falar.


-A criança pequena se desenvolve através da interação com o meio, com o convívio com outras crianças e adultos. O contato com mais crianças facilita a interação e troca de “conversas” entre eles.

- O adulto, no caso as monitoras e a professora, assumem o papel de mediadoras neste processo, estimulando e criando situações que favorecem um avanço no desenvolvimento. Esta mediação orientada do adulto chama-se Zona de Desenvolvimento Proximal.


     Penso que, ao realizar minha prática pedagógica, tenho que observar em que estágio as crianças estão, qual seu nível de desenvolvimento biológico e cognitivo se encontram, com umas mais ou menos avançadas. Do mesmo modo, além de observar, tenho que propor atividades, tanto espontâneas ou orientadas, de forma lúdica (como requer a idade) e me colocar na posição de mediadora, estimulando e facilitando o próprio desenvolvimento, bem como criando condições para um progresso maior, com minha intervenção e interagindo com os demais.

Referências:

MONTOYA, Adrián Oscar Dongo. PENSAMENTO E LINGUAGEM: PERCURSO PIAGETIANO DE INVESTIGAÇÃO. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 119-127, jan./abr. 2006.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

Centros de interesse

     A educação está inserida e é orientada por teorias e princípios que norteiam o processo de ensino e aprendizagem, dentre as quais, os Centros de interesse de Decroly.
     A necessidade mais básica do ser humano é buscar a própria sobrevivência física. Ir em busca da alimentação da família foi, desde os primórdios nas cavernas, a primeira tarefa do homem, coletando frutas e raízes ou abatendo animais. Alimentar-se, respirar e manter a sobrevivência do corpo é um instinto básico que nasce com a própria pessoa.
   Dadas as dificuldades do meio hostil da Pré-história, abrigar-se e lutar contra as intempéries também se tornou necessidade essencial na própria sobrevivência e qualidade básica de vida, embora rudimentar. Com um mundo ameaçador em torno da caverna, o homem teve que defender-se, observando e analisando o que lhe colocaria em condição de perigo. Era preciso criar estratégias para manter sua suposta qualidade de vida, a própria integridade, segurança e, por conseguinte, a vida. Para poder comer, abrigar-se e defender-se, o homem começou a produzir: instrumentos, armas, fogo, utensílios, vestimentas, a roda, plantio, entre outros. O homem pré-histórico começou a agir, trabalhar, produzir e, assim, desenvolver-se. Com esta evolução, cada vez mais o campo da produção humana se expandiu, em crescentes e sobrepostas possibilidades.


  Chegamos ao mundo contemporâneo com uma gigantesca complexidade dos interesses fundamentais do ser humano. Não basta comer, é preciso experimentar e apreciar a rica variedade alimentícia, não somente para a sobrevivência, mas por prazer. Abrigar-se é bem mais do quer ter um espaço seco, coberto e cercado, mas ter conforto e beleza em sua casa. Defender-se tornou-se regra, pois não mais somente a própria integridade física, mas o patrimônio alcançado. Do mesmo modo, produzir tornou-se mais que ocupação ou simples moeda de troca, mas uma ação que proporciona realização pessoal, incorpora serviços de utilidade pública e coletiva e produção de bens, almejando extrema qualidade de vida em termos materiais, excelência em várias áreas da vida humana e aperfeiçoamento intelectual e científico.
  Nesta vasta gama de interesses dos tempos atuais, as necessidades primordiais continuam as mesmas. Neste contexto entra a educação, que contempla de forma diversificada estes quatro centros de interesse: comer, abrigar-se, defender-se e produzir, de forma intencional ou não. São estes centros de interesse fundamentais da vida humana que todo processo de ensino e aprendizado se baseia, com base na complexidade da vida e do mundo.

   Decroly foi um pedagogo belga (1871-1932 ) que concebeu esta ideia, a partir de suas constatações, apresentando ao mundo. Segundo ele, o processo de ensino-aprendizagem deve ser orientado por centros de interesse da vida humana, elencados acima. Decroly defendia a ideia de trabalhar temas da realidade do aluno, de seu contexto de vida, para que atribua significado. Do mesmo modo, classificava as etapas do trabalho em observação (direta ou indireta), associação (análise e organização mental dos dados coletados pela observação) e expressão (expressar o aprendizado).
     Ao desenvolvermos um projeto de ensino e aprendizagem, este se baseia sempre em um ou mais centros de interesse. Ao colocarmos em prática, temos que passar por estas três etapas, onde o aluno precisa observar o objeto de aprendizagem, fazer associações que permitam a apropriação do conhecimento, através da análise e experimentações e por fim, a expressão, que é onde o aluno já adquiriu o conhecimento mas o consolida com a conclusão ou compartilhamento dos novos saberes.
     Em suma, temos que desenvolver atividades e propostas que despertem o interesse dos alunos, com temas pertinentes ao modo de vida e contexto em que vivem. Cabe ao professor conhecer seu aluno e sua realidade, para orientar os trabalhos visando que ele adquira e experimente muitos conhecimentos com entusiasmo e curiosidade.


Referências:

CINEL, Nora Cecília Bocaccio. Centros de Interesse: estratégia utiliza multidisciplinaridade para o desenvolvimento global. Revista do Professor, Porto Alegre, n. 78, ano 20, p. 32-36, abr./jun. 2004. 

domingo, 6 de maio de 2018

Educando o ser humano

     Tudo é questão de consciência e educação. Quando era pequena, e lá se vão mais de 40 anos, era normal jogar lixo pela janela do carro ou no chão mesmo, afinal a lixeira ficava longe e a natureza era eterna e passiva... 
    Era considerado normal debochar de homossexuais e fazer piada de "preto". Era normal a mulher obedecer o marido, mesmo que este a humilhasse. Era normal rotular gente não alemã (cresci em comunidade predominantemente de origem alemã) de diversos títulos ofensivos, afinal, eram diferentes, portanto, errados ou ruins. 
     Era normal fazer bullyng com a colega mal trapilha, afinal era pobre e pobres tem esses "defeitos" e são pobres porque seus antepassados devem ter sido preguiçosos... Era normal falar mal das outras religiões, afinal a "minha" era a certa. 
    Era normal classificar as pessoas, justificar suas misérias e heranças, costumes, sua cor ou raca, avaliar escolhas alheias e seguir padrões que na verdade eram ignorâncias da sociedade que não se adequava, mas excluía. 
  Grandes avanços foram dados nas últimas décadas, graças a campanhas de conscientização e educação. Ela, sempre ela, se inovando e mudando a mentalidade das pessoas. E alguns ainda dizem que era melhor daquele jeito que era.

Inovar o fazer pedagógico: uma nova perspectiva para a educação

     Nós, professores, com certa frequência perguntamos:

"O que estamos fazendo?"
 "Aonde vai a educação? 
"O que queremos propor e atingir em nosso fazer pedagógico?"


     Entre outras questões, sabemos que é preciso repensar, reconduzir e inovar nossa prática docente. 
   Inovação Pedagógica significa buscar novas perspectivas para os processos de ensino e aprendizagem, com novos olhares e fazeres. 
   O papel do professor na sociedade, ao longo do tempo e com as mudanças decorrentes, passou por várias concepções, e a inovação pedagógica vem significar o que queremos e aonde estamos indo. 
    O fazer pedagógico está inserido entre contextos sociais, interesses neoliberais, com o ser humano, receptor cultural e agente de cultura. Por estes motivos, interesses e correntes que permeiam a profissão docente fazem, não raro, esta se contradizer, se fragilizar, perdendo seus valores e tornando-se vulnerável à critica e imposições de poder, desqualificando a docência.
   A inovação pedagógica se firma como o produto da ação humana sobre um ambiente ou meio social. Precisamos inovar, rompendo com os processos convencionais de ensino e aprendizagem, tendo por base uma gestão participativa, assim, reconfigurando os saberes. É preciso reorganizar a relação teoria-prática em uma perspectiva orgânica no processo de concepção, desenvolvimento e avaliação da atividade realizada.
    Não basta repassarmos conteúdos, é preciso chegar até o aluno, dar sentido e estarmos abertos ao novo, com um olhar abrangente e contemporâneo, reformulando nosso fazer pedagógico.


Referência:
CUNHA,   Maria   Isabel   da. Inovações pedagógicas e a reconfiguração de saberes no ensinar e no aprender na universidade. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Centro de Estudos Sociais, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra, Portugal, 16 a 18 de setembro de 2004.