domingo, 28 de abril de 2019

Como ocorre o aprendizado

Ano passado trabalhei com turma de Berçário 2, crianças de 18 meses a dois anos de idade, e com eles, realizei o estágio obrigatório do  curso. Este ano passei a ser professora do Maternal 1, ou seja, com quase todas mesmas crianças. Pude perceber, nestes últimos meses, como avançaram em diversos aspectos, sejam cognitivos, motores e sociais.
A partir desta constatação, reforço Piaget, que relatou em suas teorias, de que em torno dos 2 anos as crianças passam, gradativamente da fase sensório-motor para a pré –operatória, com o desenvolvimento da inteligência simbólica, fazendo representações e vivendo intensamente momentos de faz de conta, simulando e retratando cenas do cotidiano. Do mesmo modo, desenvolvem a linguagem, articulando palavras e ensaiando frases, com um progressivo raciocínio.
No estagio desenvolvi o projeto Brincar sem brinquedo, onde exploraram materiais alternativos e criaram, de forma espontânea, suas brincadeiras. Hoje, ao oferecer novamente alguns materiais que disponibilizei no estagio, como tacos de madeira, por exemplo, já constroem mais elaboradamente suas "torres ou casas". Já conseguem ordenar, separando por tamanhos ou formas, superando suas construções anteriores. No aspecto da linguagem, repetem atentos o que falo e percebo que quanto mais converso com eles, mais facilmente aumentam seu entendimento e vocabulário.
     “Diante de um estímulo diferente, ou radicalmente novo, a criança modifica as suas estruturas ou esquemas (acomodação), depois assimila objetos semelhantes àqueles para os quais ela já tem um esquema.” (Temas da Psicologia).
     Os aprendizados efetivos acontecem pela maturação biológica, pela elaboração das estruturas cognitivas, que vão se acomodando e por fim, se auto regulam. No transcorrer de um ano para o outro, o que ocorreu foram processos de aprendizagem, resultando em estruturas mentais cada vez mais complexas e diversificadas.
Portanto, posso concluir que da passagem do Berçário para o Maternal, as crianças, além do natural desenvolvimento biológico, viveram novas experiências que se sobrepuseram e se acomodaram em estruturas mentais cognitivas. Por fim, houve um equilíbrio dos  conhecimentos adquiridos, com as crianças sendo sujeitos ativos sobre os objetos de aprendizagem.
  Enfim, o aprendizado é um processo constante, pela interação do sujeito sobre o objeto, acumulando experiências e apropriando saberes.


Referências:
KERBER, Cláudia Simone. Aprendizados. Aprendizagem, um processo constante. 2017. Acesso:

Temas da Psicologia. Piaget: adaptação, acomodação e assimilação. 2013. Acesso em:

domingo, 21 de abril de 2019

Sobre o "Dia do índio"

     Muitos questionamentos, especialmente nas redes sociais, sobre o Dia do índio. A velha visão de homenagear, em nossas escolas, a data do 19 de abril, está seriamente criticada, com razão. Confunde-se, facilmente, cultura com fantasia.

     O estereótipo do indígena usando cocar colorido e de rosto pintado é uma visão muito limitada do que é ser indígena hoje, 500 anos depois da "descoberta" do Brasil. O próprio termo "descoberta" está sendo questionado e sugere-se trocar por apropriação ou invasão do Brasil, termos agressivos, mas não longe do que de fato ocorreu.
    Como escrevi em outubro de 2017 : "Nossa geração ainda tem em mente a imagem de um indígena selvagem, seminu, morando na floresta. Vemos ora vítima, ora guerreiro, ou atrasado. Fomos ensinados assim, vimos desenhos que representavam desta maneira nos livros escolares."(Aprendizados)
     O papel do professor, entre outros,  é fazer o aluno conhecer e valorizar diferentes culturas, o mesmo se dando na indígena.  Mas o que ensinar então? O próprio termo "Dia do índio"deveria ser alterado, como diz o indígena e Doutor em educação pela USP, Daniel Munduruku:  "a data comemorativa ajuda a cimentar preconceitos sobre os povos tradicionais, e poderia ser substituída pelo dia da Diversidade Indígena." Complementa: "A palavra 'indígena' diz muito mais a nosso respeito do que a palavra 'índio'. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros", defende Munduruku, em entrevista à BBC News Brasil.

Daniel Munduruku
(Fonte: G1)

       Penso, como professora, na importância de ensinar cultura para as crianças:  "A cultura indígena é uma forma resumida para descrever tudo o que foi produzido, pensado e vivido pelos povos indígenas. Assim, é possível entender que estudar o assunto é fazer uma análise sobre diferentes comportamentos, línguas e costumes." (CELI)
      A partir desta premissa podemos começar nossos trabalhos, falando das diferentes tribos, costumes, história, arte, até os dias atuais e a luta por suas terras, envolvendo questões políticas e sociais. Devemos parar de romantizar o indígena, com a visão limitada de guardião da floresta e ensinar o que é ser indígena no Brasil:
   “Se os povos indígenas empreendem esforços para concretizar o diálogo intercultural, nos levam a pensar que se a proposta educacional é conviver e efetuar trocas com as sociedades indígenas, a escola terá que fazer um esforço para conhecer esses povos, sua história e sua cultura e, mais especialmente, afirmar uma presença que supere a invisibilidade histórica que se estende até o presente. Apesar da colonização, do genocídio, da exploração, da catequização, da tentativa de assimilar os indígenas à sociedade nacional, estes povos mantiveram-se aqui, resistentes, mesmo que por vezes silenciosos.” ( BERGAMASCHI,GOMES)

Referências:

BERGAMASCHI, Maria Aparecida. GOMES, Luana Barth. Currículo sem fronteiras. A TEMÁTICA INDÍGENA NA ESCOLA: ensaios de educação intercultura. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. 2012. 

CELI, Renata. Cultura indígena: o que é, costumes e muito mais!Dicas de estudo. 2018.

Dia do Índio é data 'folclórica e preconceituosa', diz escritor indígena Daniel Munduruku. Educação.

KERBER, Cláudia Simone.Uma visão sobre os indígenas. Aprendizados. 2017. 

sábado, 13 de abril de 2019

Educar pessoas: uma tarefa constante

   
      Na mídia nacional, nos últimos dias, foram mostrados casos de banalização da palavra proferida por comediantes e apresentadores de televisão. Nas redes sociais, um debate sobre liberdade de expressão.  O que é fazer piada de uma pessoa e o que é fazer injúria, quando atribui-se ao outro  o que não é de fato, profanando a honra desta. Muitos seguidores questionaram se seria certo ou errado tais comentários, e  o direito ao respeito, embora em tom humorístico.   
     Ao mesmo tempo, no principal reality show da TV brasileira, declarações racistas e de preconceito religioso permearam as falas da campeã, ao longo do programa, escolhida pelo público para levar o prêmio. Tais atitudes são justificadas pela maioria como falas despretensiosas, impregnadas no inconsciente coletivo.
     Estamos no século XXI, e tais questões já deveriam estar superadas. Há décadas atrás havia outra consciência, mais limitada, frente a vários aspectos da vida cotidiana, como em relação à preservação ambiental, diferenças étnicos raciais, gênero, entre outros. O bullying  no ambiente escolar era frequente, mas tolerado como leviandade da infância e adolescência. As pessoas eram classificadas por diversos fatores sociais e era considerado normal. Muito se fez, em termos de educação, para mudar esta mentalidade nos jovens estudantes. Porém, como que de forma recorrente, fatos semelhantes se repetem constantemente.
     A pergunta que surge é: como educamos toda uma geração para aceitar o outro em suas diferenças e continuamos a ver casos assim, de agressões verbais e mesmo físicas,  se não, com muito mais frequência? Os avanços dados nos últimos tempos foi significativo, mas o ato de educar o ser humano deve ser uma constante. 
     Trabalhando na educação infantil tenho a oportunidade de apresentar aos pequenos uma percepção de mundo onde a valorização do ser humano em suas diferenças é fundamental, de propor projetos e atividades que integrem e fomentem o respeito entre eles. Ações que priorizem a preservação da natureza, da vida, ideias de reciclagem e consumo consciente também são pertinentes. O ambiente escolar é propício para trabalhar valores essenciais, busca de resultados coletivos com esforços mútuos, enfim, uma nova consciência. 
     Podemos usar da tecnologia para chegar a tais efeitos, com o aluno inserido na realidade virtual, inovando na busca de novos aprendizados, tendo por base a educação que necessitam para fazerem  um mundo melhor. 
     O enfrentamento do bullying, a partir de 6 de novembro de 2015,  teve respaldo legal, com a Lei número 13.185, sancionado pela então presidenta Dilma Rousseff, que "classifica como intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou descriminação.  A classificação inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos." (Ministério da educação).
     Educar pessoas é um processo constante, pois, metaforicamente, "monstros" surgem ao negligenciarmos a luz e alimentarmos a ignorância.

Referências:

KERBER, Cláudia Simone. Aprendizados. Educando o ser humano. 2018. Acesso em:
http://claudiasimoneblogpead.blogspot.com/2018/05/educando-o-ser-humano.html

 Ministério da Educação. Especialistas indicam formas de combate à atos de intimidação. Acesso em:



sábado, 6 de abril de 2019

Questionamentos para a vida em sociedade


      A vida em sociedade, assim como também na escola e na sala de aula, nos faz questionar sobre diferenças, pontos de vista, liberdade, convivência, busca do conhecimento, e outros. Deparamos com a dialogicidade. Dialogicidade é a característica do que se efetua por meio da conversa, da chegada a um acordo de opiniões.
      Paulo Freire, no livro “À sombra desta mangueira”, nos faz refletir sobre a prática do diálogo, pois a comunicação está presente em toda ação humana como fenômeno vital e a informação encurta o tempo e o espaço. Viver em sociedade nos obriga a conviver com idéias e opiniões divergentes. Pessoas tem diferentes perspectivas a partir do ângulo em que estão posicionadas, cultural, econômica e socialmente, baseadas na realidade em que vivem e suas experiências. Estes elementos nos conduzem a buscar o diálogo, característico de sociedades democráticas.
     Como seres humanos somos finitos e inacabados, sempre em construção de aprendizados. Uma vez conscientes da nossa finitude, somos compelidos ao educar-se, a buscar maneiras de viver melhor, conhecer mais, compreender mais. Somos, por natureza, seres curiosos. A curiosidade inata nos faz quer saber mais a respeito de diferentes coisas, e por ela estamos disponíveis a indagação e a perguntas que expressam a possibilidade de conhecer. Trazendo isto para a sala de aula, Paulo Freire nos induz a perguntar: como é possível aprender sem questionar, apenas recebendo informações despejadas pelo professor, e decorando datas, fórmulas, teorias? 
     O professor precisa fomentar a curiosidade dos alunos, fazendo-o pesquisar, questionar, experimentar, debater com seus pares. A convivência que se apresenta no espaço escolar requer diálogo. 
     Não somente na relação professor-aluno, mas entre colegas docentes e comunidade escolar, a prática do diálogo torna-se fundamental, pois não podemos impor nosso ponto de vista e nem acatar deliberações não democráticas. As relações inter-pessoais tanto na escola como na vida cotidiana são permeadas pelo diálogo, salvo condutas ditatoriais que emergem pelos pântanos da sociedade. Paulo Freire, em sua obra, nos propõe a liberdade de pensar, de trocar idéias e de questionar tudo.

Referências:

KERBER, Cláudia Simone. Aprendizados. À sombra desta mangueira - reflexões. 2017. Acesso em:

FREIRE, Paulo. À sombra desta Mangueira. Livro. Editora Olho D água. São Paulo, 2000. Pg. 74-82.


quinta-feira, 4 de abril de 2019

Ética e crise moral


    O que significa ter ética, como professores, cidadãos e alunos que somos? O que é ter moral nestes tempos de "moral ao avesso"?

     "A ética é o espaço simbólico construído  pelas práticas de um povo". Segundo Carneiro, são as interações dos sujeitos visando definir o que é certo e o que é errado na vida em sociedade. Seria uma construção social e histórica de um povo. Paralelamente, a moral seria o confronto de cada um ante o que é e o que deveria ser, regulando nossas escolhas.
     Vivemos tempos em que parece ser difícil ter ética, pois a própria se confunde, visto os novos padrões que a sociedade estabelece. Não estranhemos mais se os valores estabelecidos sejam absurdos, pois refletem a nova moral vigente. Anos de construção de uma cultura de paz, por exemplo, podem ser substituídos pela cultura do ódio, que se avulta a passos largos . Pessoas que se consideram "pessoas de bem", podem passar, incompreensivelmente, a apoiar linchamentos, extermínios, pena de morte ou se manifestam com atitudes grosseiras, não raro, boçais.
   Até há pouco a sociedade considerava "normal" a corrupção na vida pública/política, como sendo algo inevitável, mas condenava atos ilícitos no cidadão comum. Hoje, escandalizados com casos divulgados pela mídia, mas podem praticar pequenas corrupções no dia a dia, em nome da sobrevivência, de um "lugar ao sol". A hipocrisia anda lado a lado com os padrões mutáveis da moral.
     Pois bem, estamos localizados em um ponto crucial, posicionando-nos entre o ser professor, ser cidadão e ser aluno. A pergunta se instala: 

   O que podemos fazer para restaurar as distorções estabelecidas, construindo uma sociedade mais ética?


     A ética passa pela educação. O professor tem um papel importante na formação da nova geração,  fomentando a criticidade nos alunos. Que mundo se quer? Que ações podemos fazer? O que é o certo é o que pode ser considerado errado? Que valores iremos eleger? Vale a máxima: " não fazer ao outro o que não gostaríamos que fizessem a nós". Educar para fortalecer o caráter, baseado em valores morais que respeitem o outro, sobrepondo-se ao egoísmo.
     Como cidadãos temos o livre arbítrio de fazer parte de uma sociedade imbuída de valores nobres e altruístas, ou de uma onda devastadora de falso moralismo e individualismo, rechaçando o que é diferente de nós.
    Como alunos, e seremos pelo resto dos dias na escola da vida, um olhar atento ao que escolhemos, decidimos e fazemos no cotidiano.
    Penso que ter ética nos dias de hoje é conseguir se manter firme ante a crise moral da sociedade, procurando harmonizar a convivência, com o compromisso de manter-se em estado de alerta, na integridade pessoal para o bem comum.


Referencias:

CARNEIRO, Alfredo de Moraes Rêgo.  Filosofia Contemporânea. Qual a diferença entre ética e moral? Filosofia na rede. (setembro/2017).Acesso em:

KERBER, Cláudia Simone. Aprendizados. Uma questão de ética. 2017. Acesso em:

OLIVEIRA, Thamia Leal de. PENA, Iviane de Melo. SILVA, Juliana Beltrão da. Sabedoria política. A Ética para os dias de hoje: reflexões e apontamentos. 2016. Acesso em: