domingo, 14 de junho de 2015

A banalização da Cultura

      O  termo “Cultura” tem sido usado amplamente no mundo atual, porém com muitas distorções e de forma generalizada. Cultura não é entretenimento, não é diversão ou lazer. Confunde-se e perde-se o sentido da palavra.
     Os meios de comunicação falam em cultura do povo, em cultura regional, em eventos culturais, muitas vezes banalizando e distorcendo a real cultura que se expressa através da arte, da literatura, da construção dos saberes  populares, da expressão transformadora de movimentos que promovem sua expansão.
     Até mesmo no meio em que vivemos, no meu caso o Vale do Caí, ouve-se o termo: “Evento Cultural”, quando um grupo de teatro se apresenta, ridicularizando a língua e o passado do povo alemão, instigando a vergonha pelas raízes e menosprezando a riqueza  de um povo. Da mesma forma, bailes se intitulam “Culturais”, estimulando a bebedeira como se beber fizesse parte da cultura, na pseudo ideia de que uma festa típica alemã é “resgatar a cultura”, quando o que objetiva é obter lucros e proporcionar lazer à população que precisa de entretenimento e “esquecer dos problemas da vida”.
     Esta visão de cultura é muito enfatizada na mídia, seja em outras regiões do país ou aqui, passando facilmente a ideia de alegria e extravasamento das angústias do povo. Até mesmo na escola podemos passar erroneamente esta mensagem. Aqui em meu município temos uma festa típica alemã, popular, realizada nas ruas do centro da cidade e com parque de diversões para as crianças, música, dança, muita bebida, jogos germânicos, comidas, exposições e muito comércio. Penso que não podemos passar a ideia de cultura aos nossos alunos, relacionando-a com diversão, mas com resgate das tradições e valores do povo.
     A cultura, de fato, é subvalorizada muitas vezes, por parecer estar além do dia a dia, longe da vida cotidiana e da realidade. Mas pergunto o que tem sido feito para promover este encontro, esta aproximação, ou melhor, para que houvesse uma apropriação da cultura? Museus, bibliotecas, galerias de arte são frequentemente visitados? Artistas são estudados em aulas de artes, ou mesmo na educação infantil e séries iniciais incluem nos conteúdos?
     Pessoalmente, acredito que artistas poderiam ser muito mais estudados nas escolas, assim como escritores e pensadores. Dei aula de Artes por dois anos, nas séries finais, e trabalhei alguns pintores e escultores da história, trazendo informações sobre a vida, a obra e o legado de cada um, e os alunos tinham que pesquisar, apresentar ao grupo, fazer releituras. Fui muito questionada, por alunos e outros professores, se isto era importante, pois ninguém mais “ligava para isso.” A cultura escolar pode ficar restrita a festas juninas ou gauchescas, não no sentido de pesquisar e valorizar as origens históricas e a cultura destes povos, mas de “fazer trabalhinhos”, visando à decoração e a diversão, minimizando a verdadeira dimensão cultural em que estão inseridas.
     Percebo também, o quanto a literatura é pouco explorada nas escolas de meu município. Escritores clássicos são desconhecidos pelos estudantes, não tendo nunca ouvido falar em Machado de Assis ou Guimarães Rosa, por exemplo. Uma aluna do segundo ano do ensino médio, relatou que leituras de livros não são exigidos pelo professor, no turno da noite. Como esperar que este aluno tenha um conhecimento da cultura brasileira, em suas riquíssimas facetas, se em aula pouco lhe é apresentado.
     Trabalho com educação infantil, com crianças bem pequenas, e infelizmente o que  assistimos em DVD não é nada cultural, com bichinhos rebolando, em som alto e efeitos multicoloridos. Para as crianças dançarem e fazerem  imitações, sempre “muito alegres e entretidas”, ou seja, sempre visando a diversão. Mas, fazendo uma autoavaliação, como professora preciso repensar as práticas e trazer à  sala de aula muito mais cultura: contos clássicos, fábulas, DVDs culturais (citando a coleção “Bebê Mais”, com música clássica), passeios educativos, mostra de obras de arte para as crianças, entre outras possibilidades.
     Não podemos esquecer nossa responsabilidade social de educadores, e como tais, nosso cotidiano, nossa práxis e mesmo nossa vida pessoal deve estar inserida em manifestações culturais, que irão enriquecer nossas experiências, nosso viver e nossa docência.

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