O termo “Cultura” tem sido usado amplamente no
mundo atual, porém com muitas distorções e de forma generalizada. Cultura não é
entretenimento, não é diversão ou lazer. Confunde-se e perde-se o sentido da
palavra.
Os meios de
comunicação falam em cultura do povo, em cultura regional, em eventos
culturais, muitas vezes banalizando e distorcendo a real cultura que se
expressa através da arte, da literatura, da construção dos saberes populares, da expressão transformadora de
movimentos que promovem
sua expansão.
Até mesmo no
meio em que vivemos, no meu caso o Vale do Caí, ouve-se o termo: “Evento
Cultural”, quando um grupo de teatro se apresenta, ridicularizando a língua e o
passado do povo alemão, instigando a vergonha pelas raízes e menosprezando a
riqueza de um povo. Da mesma forma,
bailes se intitulam “Culturais”, estimulando a bebedeira como se beber fizesse
parte da cultura, na pseudo ideia de que uma festa típica alemã é “resgatar a
cultura”, quando o que objetiva é obter lucros e proporcionar lazer à população
que precisa de entretenimento e “esquecer dos problemas da vida”.
Esta visão
de cultura é muito enfatizada na mídia, seja em outras regiões do país ou aqui,
passando facilmente a ideia de alegria e extravasamento das angústias do povo. Até
mesmo na escola podemos passar erroneamente esta mensagem. Aqui em meu
município temos uma festa típica alemã, popular, realizada nas ruas do centro
da cidade e com parque de diversões para as crianças, música, dança, muita
bebida, jogos germânicos, comidas, exposições e muito comércio. Penso que não
podemos passar a ideia de cultura aos nossos alunos, relacionando-a com
diversão, mas com resgate das tradições e valores do povo.
A cultura,
de fato, é subvalorizada muitas vezes, por parecer estar além do dia a dia,
longe da vida cotidiana e da realidade. Mas pergunto o que tem sido feito para
promover este encontro, esta aproximação, ou melhor, para que houvesse uma
apropriação da cultura? Museus, bibliotecas, galerias de arte são
frequentemente visitados? Artistas são estudados em aulas de artes, ou mesmo na
educação infantil e séries iniciais incluem nos conteúdos?
Pessoalmente,
acredito que artistas poderiam ser muito mais estudados nas escolas, assim como
escritores e pensadores. Dei aula de Artes por dois anos, nas séries finais, e trabalhei
alguns pintores e escultores da história, trazendo informações sobre a vida, a
obra e o legado de cada um, e os alunos tinham que pesquisar, apresentar ao
grupo, fazer releituras. Fui muito questionada, por alunos e outros
professores, se isto era importante, pois ninguém mais “ligava para isso.” A
cultura escolar pode ficar restrita a festas juninas ou gauchescas, não no
sentido de pesquisar e valorizar as origens históricas e a cultura destes
povos, mas de “fazer trabalhinhos”, visando à decoração e a diversão,
minimizando a verdadeira dimensão cultural em que estão inseridas.
Percebo
também, o quanto a literatura é pouco explorada nas escolas de meu município.
Escritores clássicos são desconhecidos pelos estudantes, não tendo nunca ouvido
falar em Machado de Assis ou Guimarães Rosa, por exemplo. Uma aluna do segundo
ano do ensino médio, relatou que leituras de livros não são exigidos pelo
professor, no turno da noite. Como esperar que este aluno tenha um conhecimento
da cultura brasileira, em suas riquíssimas facetas, se em aula pouco lhe é
apresentado.
Trabalho com
educação infantil, com crianças bem pequenas, e infelizmente o que assistimos em DVD não é nada cultural, com
bichinhos rebolando, em som alto e efeitos multicoloridos. Para as crianças
dançarem e fazerem imitações, sempre
“muito alegres e entretidas”, ou seja, sempre visando a diversão. Mas, fazendo
uma autoavaliação, como professora preciso repensar as práticas e trazer à sala de aula muito mais cultura: contos
clássicos, fábulas, DVDs culturais (citando a coleção “Bebê Mais”, com música
clássica), passeios educativos, mostra de obras de arte para as crianças, entre
outras possibilidades.
Não podemos
esquecer nossa responsabilidade social de educadores, e como tais, nosso
cotidiano, nossa práxis e mesmo nossa vida pessoal deve estar inserida em
manifestações culturais, que irão enriquecer nossas experiências, nosso viver e
nossa docência.
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