O discurso atual de igualdade, inclusão, respeito às diferenças e sem preconceitos nem sempre condiz com a realidade.
O ser humano é, em essência, livre de preconceitos, pois este não é inato, mas adquirido, ou melhor, aprendido. O meio onde a criança cresce e se desenvolve irá afetar significativamente seu modo de ver e sentir o mundo. E do meio em que está inserida que vai construir seu esquema mental, pois de lá que terá referencias.
Conforme as pesquisas de Allport(1946) e de Adorno et al. (1965) mostram, o preconceito não é inato; ele se instala no desenvolvimento individual como um produto das relações entre os conflitos psíquicos e a estereotipia do pensamento - que já é uma defesa psíquica contra aqueles-e o estereótipo, o que indica que elementos próprios à cultura estão presentes. (Crochík)
O preconceito é uma defesa da pessoa, uma forma de lidar com o que lhe causa aflição, o que lhe perturba e provoca, mas que não sabe, inconscientemente, lidar com isso, por desconhecimento, baseado em estereótipos que classificam as pessoas, separando-as por categorias. O sujeito, ainda na infância se apropria de estereótipos, que são produtos sociais e mesmo Freud afirmava: “Contudo. como aquilo que se formou no passado é preservado no presente, podemos supor que aquela dicotomia, por vezes, tome o lugar da experiência."( Crochík)
Muitas vezes nos surpreendemos com atitudes de pessoas esclarecidas, com posturas preconceituosas em nosso dia a dia e nos questionamos a respeito disso, pois acreditamos que o preconceito deriva da ignorância ou da falta de estudo, atestando, mais uma vez, os nossos próprios estereótipos, de que alguém sem estudo é ignorante e preconceituoso. Bem ao contrário, o preconceito está presente no ser humano de qualquer escolaridade e condição social, e novamente, categorizando as pessoas.
A criança tende a imitar as pessoas com quem convive, criando padrões de pensamento, não raro coletivos, de uma cultura, grupo étnico-racial ou social. “Papalia (2013) afirma que a criança é exposta - ao que se refere apreconceito - primeiro no ambiente familiar e em seguida quando está em idade escolar e passa a interagir com outras crianças."(Manuel, Oliveira, Silva)
O educador é um profissional que está diretamente atrelado à formação das crianças, que, preocupados com a construção do conhecimento do aluno, devem atentar-se para os aspectos motivadores do despertar da curiosidade, abrangendo também as relações interpessoais. Sua influencia tem peso na vida psíquica e emocional do aluno, pois é objeto de transferências, que seriam reedições dos impulsos e fantasias despertadas que trazem como característica a substituição de uma pessoa anterior, comumente os pais, pela pessoa do professor.
“Dessa forma, sentimentos de simpatia ou rejeição gratuitos que tanto o professor pode sentir em relação a algum aluno, assim como algum aluno em relação ao professor; podem ter origem nesta premissa, já que os relacionamentos posteriores são obrigados a arcar com uma espécie de herança emocional. Todas as escolhas posteriores de amizade e de amor seguem a base das lembranças deixadas por esses primeiros protótipos.” (Jesus)
Neste sentido, as pessoas que estão ligadas ao desenvolvimento e formação da criança precisam atentar para seus próprios preconceitos, analisando e revisando seus conceitos, pois existe uma saída para nossas concepções preconceituosas: esclarecimento, informação e boa vontade.
Referencias:
Crochík, José Leon. Preconceito, indivíduo e sociedade. Universidade de São Paulo. 1996.
Acesso em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1996000300004
Jesus, Angela Vujanski de. RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Pedagogia ao pé da letra. Acesso em: https://pedagogiaaopedaletra.com/relacao-professoraluno-na-educacao-infantil/https://pedagogiaaopedaletra.com/relacao-professoraluno-na-educacao-infantil/
Manuel, Daniela Fiorin Falco Pereira. Silva, Marcus Vinícius. Oliveira, Roselle Fernandes Torres. A origem do preconceito Artigo. Centro Universitário de Itajubá.
Acesso em: http://www.fepi.br/revista/index.php/revista/article/view/260/147