terça-feira, 23 de junho de 2015

Pedagogia da autonomia - parte 2: práticas docentes

       O conceito de autonomia, segundo Paulo Freire, é possibilitar ao aluno pensar por si próprio, que se dá no aprender, na construção de seu conhecimento, de forma crítica e consciente.
      Para Paulo Freire a relação aluno/professor é importante no sentido de que um não existe sem o outro. O professor só ensina, de fato, se o aluno consegue, além de entender, reelaborar e refazer seu conhecimento.
      O aluno, neste processo de construção do conhecimento, traz saberes anteriores à sala de aula, partindo destes para novos. Questões do interesse do aluno devem ser problematizadas para que ele aprenda a pensar por si, sem seguir padrões e sistemas. O aluno deve ter a liberdade de pensar e de reestruturar seus pensamentos, para a construção de uma nova realidade, humanamente, com a consciência de toda desigualdade social do mundo em que está inserido e interagir, sujeito do tempo e da história.
     Em minha realidade como professora de educação infantil a pedagogia da autonomia de Paulo Freire se reflete no respeito que tenho por meus alunos. Embora muito pequenos, já podem tomar algumas decisões  que sinalizam a formação da autonomia. Em pequenos atos do cotidiano, são induzidos a pensar onde deixaram seus pertences, por exemplo, ou refletir sobre determinada atitude do grupo, situação ou mesmo observações do tempo, da rotina e brincadeiras. Todos são igualmente indagados e levados a pensar sobre determinados assuntos.
     As crianças, entre um e dois anos, necessitam de orientação, de parâmetros que definam uma linha que os caracteriza na escola. Ainda são pequenos para entender e optar entre o certo ou o errado, o bom ou ruim, o perigoso ou não, mas o professor deve guiá-los para que observem, distingam, aprendam pela experiência e sejam sujeitos de suas atitudes.
      Para que construam a sua autonomia, as crianças podem ser estimuladas a questionar, observar, retratar situações de seu ponto de vista, com a devida expressão oral que a idade lhes permite. Começam a ter autonomia inicialmente com seus pertences, como tirar o calçado, guardar os brinquedos, segurar os talheres ou o copo. A partir de pequenas atitudes, as maiores começam a fazer sentido e acontecerem, desde que sejam dadas as condições para favorecer esta autonomia. 

Pedagogia da autonomia - parte 1


      Em seu livro “A pedagogia da autonomia”, Paulo Freire traz à discussão diversos aspectos referentes ao trabalho do professor, as bases que a docência se apoia e a interação com os alunos.
     Sempre à frente com seu pensamento e suas práticas, Paulo Freire é referência de ética, dignidade, responsabilidade social e coerência. Como ninguém, conseguiu ver o que realmente faz sentido no ato de ensinar, a importância da relação aluno/professor e de promover a autonomia e a crítica. Trouxe à tona a questão da desigualdade e exclusão para com os grupos oprimidos e menos favorecidos da sociedade, defendendo a educação de qualidade para todos e a humanização do ensino.
      Lendo sua obra percebi a grandeza e a responsabilidade que é o ato de ensinar. Ninguém apenas passa conteúdos, o professor tem à sua frente alunos distintos, numa troca de saberes. O professor só ensina realmente se o aluno não só aprende, mas reelabora e refaz este aprendizado, significando-o. Por isso a docência exige muitas precondições fundamentais.

     A docência exige metodologia, com certa rigorosidade, comprometimento, pesquisa, ética, espírito crítico, corporificar o que acredita, estar aberto ao novo, ao diálogo, respeitar as diferenças, valorizando a identidade cultural de seus alunos. Ensinar envolve ajudar o aluno a construir seu conhecimento, promovendo a autonomia, com bom senso, alegria, paciência, tolerância, em relações de parceria com o educando. Saber ouvir o aluno, respeitar e valorizá-lo como pessoa em formação, que pode intervir no mundo e construir o futuro.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Escola, cultura e novos saberes

       Dentro de uma escola convivem diferentes pessoas, cada uma com sua história pessoal, sua origem, seu contexto sociocultural, suas maneiras de ver a vida e suas formas de pensar. Compartilham o mesmo ambiente alunos, professores, serventes, diretor, merendeira ou mais funcionários. Pais também fazem parte da comunidade escolar, do lado de fora, mas relativamente inseridos na vida escolar dos filhos.
    A realidade de cada um é diferente e é preciso encontrar o denominador comum entre todas as partes. Acredito que seja o processo ensino/aprendizagem que media todo este conjunto de pessoas, pois enfim, o que se espera de uma escola é a aquisição de conhecimento.
     Os saberes repassados pelos professores aos alunos fazem parte da cultura geral, pois a sociedade os considera importantes e quer manter esta continuidade. Mas não é só disso que vive a escola. O aluno participa de diversas atividades, de grupos de estudo, de pesquisa, de laboratórios, de eventos culturais, esportes, entre outros. Ele aprende valores, regras de convivência e respeitar as diferenças, os outros em suas funções e espera também ser respeitado.
    Cada uma destas pessoas tem um saber, um talento, conhecimentos prévios, a sua bagagem cultural. E esta cultura se junta com as outras e constrói-se uma nova cultura. Do mesmo modo, a vida que conhecemos é diferente da vida de outros, com uma realidade que os condiciona a ser de um jeito ou outro. Como então compreender a todos, e esperar que cada um entenda as aulas do mesmo jeito? Como olhar para alunos diferentes e ver dentro de suas mentes tantas outras perspectivas?
    Pessoas tão diferentes convivem, partilham mesmos conteúdos na sala de aula, com diferentes recursos, mas produzem uma cultura heterogênea, juntando o que aprendem na escola com o que já adquiriram em casa, nos meios de comunicação, na internet, nas suas experiências, até mesmo nas ruas ou no submundo, infelizmente.
      Cada pessoa constrói sua própria condição de existência no plano de cultura do meio em que está inserida, trazendo tudo que faz parte de seu mundo consigo, e assim, reelaborando o seu existir.

sábado, 20 de junho de 2015

Relações cérebro/mente e corporeidade

          
         A relação existente entre o corpo e o cérebro determina nosso existir no mundo. Seja nos movimentos, no pensar, sentir, criar ou agir.
      O cérebro humano é um complexo de neurônios e conexões comparado a um motor, que pode ser muito potente ou limitado. Para organizar tudo que deseja fazer, o cérebro se expande, na medida dos estímulos recebidos.
       O corpo recebe informações do meio externo, principalmente através da visão, mas também de outros receptores, como o tato ou a audição. Estas informações, ao se conectarem com os sensores do nosso corpo, são enviadas ao cérebro, que por sua vez determina automaticamente uma resposta. Assim produz uma ação imediata, do receptor ao cérebro e este de volta ao corpo, estabelecendo, por conseguinte, a memória do ato registrado. Muitas memórias criam uma teia de conhecimento assimilado e que vão se ampliando sob mais estímulos e exercícios de memória.
      A corporeidade pode ser usada para fazer surtir efeitos mais relevantes sobre o aprendizado de estudantes, por exemplo. O professor pode fazer uso de sensações variadas, técnicas alternando visão e audição, dinâmicas que juntam os cinco sentidos na exploração do meio, proporcionar maior contato do corpo com os objetos estudados, se assim requer.
       Os potenciais das crianças, e de toda pessoa, podem ser despertados de seu estado inativo e desenvolvidos plenamente, com exercícios que unem a corporeidade, em suas receptações, com o cérebro, seja a mente ou o emocional, pois tudo parte do grande computador que está dentro de nós.
        Fazendo uma comparação com meu trabalho na EMEI, junto à turma do Berçário 2,  a corporeidade se faz presente a todo instante, pois cada novo aprendizado é primeiro receptado, seja em contato físico, com o toque, a proximidade, o olhar, o cheiro, o som. Depois passa por uma assimilação, num estágio que determina se é bom ou ruim, agradável, ou mesmo confiável aos pequenos. Por meio de repetições as crianças criam um esquema físico e mental que acaba por criar a memorização.

       Desta forma, a corporeidade é usada em toda e qualquer prática com as crianças, pois é desta maneira que incorporam as informações que se transformam em sinais, e por sua vez em conhecimentos. 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A construção do conhecimento no Berçário

                     
     A construção do conhecimento é a base do meu fazer pedagógico, como forma de aprender, conhecer e interagir com o mundo.
      Trabalho em uma EMEI que atende crianças de quatro meses a três anos de idade, e atualmente atuo com a turma do Berçário 2a, ou seja, são crianças muito pequenas, de 12 a 18 meses.
    As crianças nesta fase estão começando a caminhar, a comer sozinhas e a falar. Pedagogicamente, procuro estimular o desenvolvimento de forma lúdica, com intervenções ou permeando a rotina, que torna a relação aluno-professor bastante próxima.
     De forma alguma as crianças são “tábuas rasas”, a serem “preenchidas” com conhecimentos, como pressupõe a teoria empírica, e também suas capacidades não  estão condicionadas a fatores externos ou hereditários, para serem “moldadas” pelo meio em que vivem, como considera o Apriorismo, como teoria epistemológica.
    As crianças são inteligentes por natureza, com conhecimentos que trazem consigo desde o nascimento, com cada situação nova apresentada, com suas famílias, com sua ida à creche ainda bebês, cada processo de avanço no desenvolvimento biológico, motor e cognitivo. Ao chegarem ao Berçário 2, já possuem muitos conhecimentos, mesmo que sutis e inconscientes, mas que que são bases para novos e mais desafiadores, seja no desenvolvimento da oralidade, na motricidade, nos reflexos, nos movimentos corporais, nas capacidades físicas desenvolvidas.
     As crianças já se socializaram, compartilham brinquedos, entendem o que a professora diz, mostram interesse por coisas novas que instigam seu desenvolvimento, como brincadeiras, canções gesticuladas, andar com motocas, subir no escorregador mais alto, a própria autonomia que surge com a destreza adquirida ao segurar os talheres, por exemplo.
    À medida que constroem conhecimentos, desenvolvem suas capacidades e adquirem mais autonomia, parto para intervenções mais desafiadoras, cada vez mais ousadas. Faço conversações que induzam a falar, quando ainda apenas articulam sílabas, avançando para palavrinhas, nomeações ou a identificação dos colegas e de objetos, com noções de lateralidade. As canções passam a serem coordenadas com gestos e palmas, e depois com imitações. As brincadeiras corporais, onde segurar a mão do colega era um desafio passam a ser de roda, com um grupinho maior. Aprendem a esperar a vez, a ter uma ideia de sequencia temporal, passam a almejar alçadas maiores, que exige planejar, atenta ao estágio em que se encontram.
 
  
     Através da concepção do Construtivismo, organizo as atividades que irão assegurar a construção do conhecimento dos pequenos, enfatizando vários aspectos na gama de possibilidades que podem ser apresentadas, de forma interdisciplinar, dinâmica e lúdica, como pede a ação pedagógica para esta faixa etária.











terça-feira, 16 de junho de 2015

Dificuldades no processo da assimilação e construção do aprendizado.


       A ciência tem cada vez mais se aproximado da educação, identificando e buscando soluções para problemas de aprendizado.
      Muitas crianças tem dificuldade de memorização, de prestar atenção e registrar mentalmente o que foi falado em aula. Mostram-se alheias, dispersas, ora hiperativas ou com o pensamento a vagar longe, "flutuando".
      Na educação infantil percebo algumas crianças com muita dificuldade de silenciar, de parar um pouco. Também vejo, em minha escola, crianças que não participam das atividades propostas pela professora, alheias ao que acontece em sua volta, isoladas em um "universo" particular.
Pela experiência e pelo conhecimento adquirido em cursos de formação, procuramos deixar a criança isolada tranquila em seu "mundo", sem forçar a participação, mas incentivando a fazer parte do grupo, das rodinhas e outras brincadeiras. Palavras de estímulo tornam-se importantes, canções em nomeia-se os colegas, despertam nestas crianças a percepção de "existirem para os outros, para a turma", de estarem aí, presentes. Geralmente é apenas timidez ou temperamento introvertido, mas sem esquecer a existência de casos mais extremos de isolamento, que requer acompanhamento.

        As crianças hiperativas necessitam de uma dose extra de atenção e paciência, pois agitam todo o grupo e frequentemente mudamos o que planejamos para a aula, pois passamos muito tempo em função de um ou dois alunos. Torna-se difícil "sossegar" tais crianças, pois sempre estão correndo, pulando e tem dificuldade para seguir as regrinhas e os combinados. 
        Algumas crianças tem um comportamento agressivo, com tendência para bater, morder ou empurrar os colegas. Estas crianças geralmente tem alguma coisa incomodando em casa, refletindo, desta forma, no seu modo de agir na escola,  suas angústias. Outras tem, sim,  maior agressividade  a ser diagnosticada por um médico neurologista ou psicólogo.
        Quanto ao aprendizado, com certeza, muitos fatores influenciam a assimilação, como por exemplo, poucas horas de sono, má alimentação, ambiente barulhento em suas casas, com muito som alto, TV ligada o tempo todo, pois ela não consegue se aquietar com facilidade. Problemas familiares, com disputas, agressões verbais(ou mesmo físicas), falta de carinho e atenção, comprometem a auto-estima, a concentração e o aprendizado torna-se lento, senão crítico.
        Em minhas práticas pedagógicas gosto de inicialmente acalmar as crianças, fazê-las olhar para mim, e dizer a elas o que vamos fazer, falando que será muito boa a atividade e que irão gostar muito. Geralmente ficam mais atentos, curiosos e interessados na atividade. Procuro sempre conhecer a ;;;história pessoal de cada criança, seus medos, dramas e aflições e saber do contexto em que vivem em suas casas, se tem irmãos, o que fazem e brincam.
       A Neuroeducação e a psicologia vem abrindo portas para o conhecimento do que se passa no processo da aprendizagem, para orientar e oportunizar a assimilação, a acomodação e efetivamente, equilibrar os conhecimentos adquiridos, citando Piaget, com o que já foi registrado, construindo, assim, o aprendizado.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

As diferenças sociais na escola

     Historicamente, o trabalho surgiu com a transformação da natureza pela ação humana, e seu  resultado foi apropriado por quem o idealizou, e é claro, realizou. Com o passar do tempo, o trabalho  começou a ser executado por outros, e o fruto do trabalho nas mãos de quem não realizou, mas somente idealizou.
     Começaram a surgir diferenças neste processo, pois quem executava o trabalho afastou-se do resultado e seus benefícios, perdendo, desta forma, o sentido maior de seu esforço. O trabalho, gradativamente, tornou-se mercadoria de troca, cada vez mais distante de seu significado inicial. Com isso, alguns se beneficiavam, outros cumpriam obrigações. O trabalho braçal ficou com a maioria, enquanto a minoria estipulava as regras que originou a sociedade capitalista e usufruía dos produtos.
     Os resultados geravam cada vez mais necessidades que precisavam ser supridas com mais trabalho e linhas de produção, afastando cada vez mais as classes operárias dos frutos, ou seja, o trabalhador empenhava-se em laborar em troca de alimento e sustento, enquanto que os dominantes criavam mais e mais novas necessidades. Formaram-se, assim, as classes sociais, com as maiorias trabalhadoras na base, alienadas de todo usufruto, e subindo na pirâmide, conforme mais usufruía, ou seja, os beneficiados no topo, dominando as bases.
     Deste mesmo modo, a cultura ficava nas mãos de quem podia usufruir de tudo de bom que o mundo produzia, enquanto que os assalariados contentavam-se com muito menos: o básico para uma vida digna e aceitando seus limites, não almejando alçadas  maiores. Com isso, as classes dominantes, e consequentemente abastadas, apropriaram-se do saber, da cultura, dos grandes feitos da humanidade, das artes, dando valor comercial a eles.
     A cultura em expressões máximas da beleza, como pintura, ou sensibilidade, como a música, a dança ou a literatura, ficavam ao lado de quem podia pagar este valor comercial, mais alto quanto mais original e expressivo. Paralelamente, manifestava-se a cultura popular, das classes menos favorecidas, considerada uma subcultura, “inferior”, pois pertencia aos pobres, aos excluídos e a todos os trabalhadores primários. As expressões surgiram nas artes de rua, nos porões, nas festas populares. Porém, esta divisão histórica de classes não justifica a alienação, a privação das maiores expressões da arte, da música, da literatura. O acesso deve ser igualitário, nivelando horizontes, criando possibilidades homogêneas a toda pessoa.
     O acesso à escola e educação, também ficou, historicamente, nas mãos de quem podia pagar por este bem, as classes privilegiadas da sociedade. Com isso, a plebe, ou melhor, o povo da base operária não estudavam, pois além de não poderem pagar, também “não precisavam de estudo”, conformando-se neste paradigma estabelecido.
     Com o passar dos tempos, algumas coisas mudaram, porém as classes oprimidas passaram a ser outros grupos, presentes até hoje em nossa realidade: mulheres, negros, índios, portadores de necessidades especiais, entre outros tantos excluídos.
     Até que ponto continuamos perpetuando estas diferenciações no cotidiano escolar? De que forma damos continuidade a estas inversões, favorecendo “os detentores do saber e da cultura”(temos alunos de uma melhor condição social, econômica e cultural que outros) e menosprezando o aluno humilde, pobre e à margem da cultura em sua realidade existencial. Quando elogiamos sempre o aluno limpinho, branco, filho de pais “importantes”, estamos perpetuando, inconscientemente, esta problemática social. Claro que podemos elogiar seus feitos, mas o aluno sujinho, pobre, negro (ou qualquer que seja sua característica erradamente exclusiva), também deve ter as mesmas condições de obter sucesso nos seus feitos, com possibilidades iguais de êxito e merecedor de reconhecimento.
     Na prática das escolas, têm-se visto, ora camuflada, ora escancaradamente exposta esta situação, com alunos sendo tratados de forma desigual, ofensiva e desmerecidamente. Toda criança, ou aluno, tem direito à educação de qualidade, acesso à cultura e condições de desenvolver todo seu potencial, com o apoio necessário para sanar deficiências que infelizmente surgem de sua condição social desfavorecida neste contexto capitalista de sobrevivência egoísta e injusta.
      Como eu, professora, posso contribuir para mudar essa realidade em minha escola? Fazendo um trabalho onde prevaleça a igualdade, a solidariedade e a justiça.

domingo, 14 de junho de 2015

A banalização da Cultura

      O  termo “Cultura” tem sido usado amplamente no mundo atual, porém com muitas distorções e de forma generalizada. Cultura não é entretenimento, não é diversão ou lazer. Confunde-se e perde-se o sentido da palavra.
     Os meios de comunicação falam em cultura do povo, em cultura regional, em eventos culturais, muitas vezes banalizando e distorcendo a real cultura que se expressa através da arte, da literatura, da construção dos saberes  populares, da expressão transformadora de movimentos que promovem sua expansão.
     Até mesmo no meio em que vivemos, no meu caso o Vale do Caí, ouve-se o termo: “Evento Cultural”, quando um grupo de teatro se apresenta, ridicularizando a língua e o passado do povo alemão, instigando a vergonha pelas raízes e menosprezando a riqueza  de um povo. Da mesma forma, bailes se intitulam “Culturais”, estimulando a bebedeira como se beber fizesse parte da cultura, na pseudo ideia de que uma festa típica alemã é “resgatar a cultura”, quando o que objetiva é obter lucros e proporcionar lazer à população que precisa de entretenimento e “esquecer dos problemas da vida”.
     Esta visão de cultura é muito enfatizada na mídia, seja em outras regiões do país ou aqui, passando facilmente a ideia de alegria e extravasamento das angústias do povo. Até mesmo na escola podemos passar erroneamente esta mensagem. Aqui em meu município temos uma festa típica alemã, popular, realizada nas ruas do centro da cidade e com parque de diversões para as crianças, música, dança, muita bebida, jogos germânicos, comidas, exposições e muito comércio. Penso que não podemos passar a ideia de cultura aos nossos alunos, relacionando-a com diversão, mas com resgate das tradições e valores do povo.
     A cultura, de fato, é subvalorizada muitas vezes, por parecer estar além do dia a dia, longe da vida cotidiana e da realidade. Mas pergunto o que tem sido feito para promover este encontro, esta aproximação, ou melhor, para que houvesse uma apropriação da cultura? Museus, bibliotecas, galerias de arte são frequentemente visitados? Artistas são estudados em aulas de artes, ou mesmo na educação infantil e séries iniciais incluem nos conteúdos?
     Pessoalmente, acredito que artistas poderiam ser muito mais estudados nas escolas, assim como escritores e pensadores. Dei aula de Artes por dois anos, nas séries finais, e trabalhei alguns pintores e escultores da história, trazendo informações sobre a vida, a obra e o legado de cada um, e os alunos tinham que pesquisar, apresentar ao grupo, fazer releituras. Fui muito questionada, por alunos e outros professores, se isto era importante, pois ninguém mais “ligava para isso.” A cultura escolar pode ficar restrita a festas juninas ou gauchescas, não no sentido de pesquisar e valorizar as origens históricas e a cultura destes povos, mas de “fazer trabalhinhos”, visando à decoração e a diversão, minimizando a verdadeira dimensão cultural em que estão inseridas.
     Percebo também, o quanto a literatura é pouco explorada nas escolas de meu município. Escritores clássicos são desconhecidos pelos estudantes, não tendo nunca ouvido falar em Machado de Assis ou Guimarães Rosa, por exemplo. Uma aluna do segundo ano do ensino médio, relatou que leituras de livros não são exigidos pelo professor, no turno da noite. Como esperar que este aluno tenha um conhecimento da cultura brasileira, em suas riquíssimas facetas, se em aula pouco lhe é apresentado.
     Trabalho com educação infantil, com crianças bem pequenas, e infelizmente o que  assistimos em DVD não é nada cultural, com bichinhos rebolando, em som alto e efeitos multicoloridos. Para as crianças dançarem e fazerem  imitações, sempre “muito alegres e entretidas”, ou seja, sempre visando a diversão. Mas, fazendo uma autoavaliação, como professora preciso repensar as práticas e trazer à  sala de aula muito mais cultura: contos clássicos, fábulas, DVDs culturais (citando a coleção “Bebê Mais”, com música clássica), passeios educativos, mostra de obras de arte para as crianças, entre outras possibilidades.
     Não podemos esquecer nossa responsabilidade social de educadores, e como tais, nosso cotidiano, nossa práxis e mesmo nossa vida pessoal deve estar inserida em manifestações culturais, que irão enriquecer nossas experiências, nosso viver e nossa docência.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Reflexão e observações importantes

   
      Fazendo uma reflexão mais direcionada, associando os conteúdos das interdisciplinas deste primeiro semestre, com minha prática pedagógica, observei alguns aspectos a serem analisados.
     Em primeiro lugar, a Corporeidade, tem chamado muito minha atenção, uma vez que já percebi, nestes anos de educação infantil, da necessidade de estabelecer um vínculo afetuoso com minhas crianças, pois elas chegam cedo à escola, muitas vezes dormindo, ente 6hs e 7 horas da manhã, e quase todas vão embora depois das 17 horas. O dia se torna longo, cansativo, a ausência da mãe precisa ser preenchida com muito carinho, colo, toque, conversas olho no olho. As brincadeiras também devem ser de integração, com contato físico e despertando todos os sentidos da criança, para que ela possa estabelecer uma relação sadia com os demais, aprender coisas novas envolvendo toda sua corporeidade, estando totalmente presente no que faz e assimila, sentindo-se amada e querida no ambiente, consciente de seu valor.
     Alguns aspectos organizacionais da minha escola, inicialmente considerei excelentes, mas hoje, analisando o PPP e as necessidades que deve preencher, vejo que em alguns aspectos deixa a desejar, mas ainda pode ser construído. Na interdisciplina Escola, Projeto Político Pedagógico e Currículo, participando dos Fóruns e com as leituras, muitas questões foram levantadas, e lacunas começaram a aparecer. Como mencionei em um comentário do Fórum, é frustrante a relação entre professor, aluno e família, quando envolve um agravante em uma das partes, e não há um acompanhamento maior, por parte da escola e da mantenedora para solucionar e/ou apontar direções e aconselhamentos, através de um psicólogo atuante na rede de ensino.
     Quando a análise envolve uma visão social, como na interdisciplina Escola, Cultura e sociedade, destaco um ponto que chamou muito minha atenção: os coletivos sociais. Em minha escola as famílias não apresentam grandes diferenças sócio-econômicas-culturais, mas é claro que, mesmo envolta em uma fina névoa, sutilmente existe sim, discriminação racial e distinção por diferenças de profissão dos pais. Algumas crianças, oriundas de outras cidades são, até por alguns professores, "os de fora", que vem ao município "só para ganhar creche e não pagar mensalidade". Mesmo que isto ocorra é incoerente com a concepção de uma sociedade igualitária e de direitos iguais. Temos também um único menino afro-descendente, motivo para justificar seu comportamento ora "não adequado", normal à qualquer criança de sua idade, como fazer birra e "não obedecer...", onde é dito o velho refrão "só podia ser de cor". Situação indigesta, mas real, por comentários de outros pais e até professores, mostrando como ainda existe discriminação em nosso meio. Da mesma forma, crianças filhos de pais de destaque social, como advogados, músicos ou colegas professoras, querendo ou não, percebe-se um discreto tratamento diferenciado, com mais atenção por parte dos professores e funcionários, como se o trabalho ou o sucesso dos pais determinasse a qualidade do atendimento aos filhos, deixando para "lá", na vala comum, os filhos de pais operários. Mas, felizmente, os casos são poucos, fruto da herança cultural que estamos inseridos.
     Muitos são os desafios a serem travados, pois nossa escola não é perfeita, nem os professores e muito menos a sociedade. Mas estamos dispostos a transformar, a fazer o nosso melhor na construção de um futuro mais justo, igualitário, humano, rico em valores e com novas mentalidades, através do poder de uma escola inclusiva, consciente e compromissada.
      Da mesma maneira, muitas são as reflexões que podemos fazer, através de muito estudo e boas leituras, visando sempre aprimorar nossa prática docente, enriquecendo nosso fazer pedagógio, com uma bagagem maior e nosso aperfeiçoamento, não só profissional, mas antes de tudo, pessoal, como seres humanos, orientadores de outros seres humanos, no caminho da vida, do saber, do conhecimento e da história.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

ESCOLA E COMUNIDADE: COMO INTEGRAR

   
      Reflexões na interdisciplina: ESCOLA, CULTURA E SOCIEDADE - primeira semana

     A escola é um dos primeiros contatos da criança com pessoas diferentes, fora da família, pois a socialização acontece, de fato, no ambiente escolar.
     Na escola ela faz amigos, participa de atividades em grupo, tem voz e vez para expressar o que pensa. Além de adquirir os conhecimentos, ditos universais, conhecer e ampliar os horizontes e sua visão de mundo.
     Em inúmeras situações, o estar na escola compreende outras questões: alimentar-se, sentir-se amparada, preparar-se para um futuro que vai lhe exigir certos requisitos, como um certificado, por exemplo.
     O ideal, num mundo utópico, seria que toda criança que chega à escola estivesse alimentada, segura, limpa, sem dificuldades de aprendizado, atendida por sua família em suas necessidades físicas e emocionais. Que tivesse um comportamento adequado, não agressivo, livre de preconceitos e desigualdades.
     Mas essa não é a realidade da maioria das nossas escolas. Ela pode estar inserida em um contexto de adversidades familiares, econômicas e sociais.
     Como fazer o aluno integrar-se, aprender, almejar uma vida melhor, saindo de sua situação conflitiva? O professor e a escola precisam cativar e integrar o aluno que vive um contexto social e econômico aquém do ideal, ou envolto em situações de marginalização, preconceitos de cor, opção sexual, credo, entre outros, e educar, ensinar efetivamente.
     A escola que se espera, pode repassar conteúdos que façam sentido em suas vidas, organizando um currículo que promova não apenas a aquisição de conhecimentos, mas possibilitando visualizar uma nova perspectiva e uma autoestima que lhe permita avanços na escola e na vida.
     Penso que a escola, como um todo, precisa conhecer os fatores sociais da realidade de seus alunos, tendo compromisso com a igualdade, a transformação, valorizando outros saberes, vindos da comunidade, tornando-os conscientes de seu valor no mundo, fomentando a busca pelos seus direitos e de uma vida com dignidade. Ou seja, descobrir a riqueza das diferenças, das culturas, dos hábitos e costumes, incentivando o esporte, o lazer, a convivência e porque não, promovendo ações sociais que envolvam os alunos e a comunidade, como feiras, gincanas ou até mutirões.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Retrato da escola



     No início do curso nos foi proposta uma atividade: fazer uma narrativa digital, intitulada "Retrato da Escola". Confesso que gelei, pois meus conhecimentos digitais são limitados. Mas tudo bem, estava na hora de avançar, de transpor o básico que sabia até então.
     Foi solicitado fazer um vídeo sobre o meu olhar sobre a escola, o meu ponto de vista. Como recém tinha feito uma pintura no vidro da entrada e havia ficado muito bonita, pensei em analisar deste ângulo: como a escola se prepara para a chegada do Natal, com sua decoração estratégica, com a participação das crianças e até das famílias.

     Fiz o vídeo, apresentando o espaço físico e este meu olhar diferenciado. Mas depois guardei, deixei de lado um pouco, pois iam surgindo novos elementos... diário de bordo, planejamento, contexto da escola...
     No retorno, em 2015, surgiram novas ideias sobre como fazer melhor este Retrato da escola. Então aprendi a usar novas ferramentas, e fiz o trabalho no Movie Maker, escolhendo novas fotos, música, legendas, enfim, repaginando completamente. À medida que recebia sugestões e sentia mais confiança, ia modificando e complementando. Mas daí o foco já era outro.
     Optei por não ficar somente com a visão sobre a decoração e os preparativos para uma data especial, mas pensei em mostrar minha escola de uma forma mais ampla e com base no Projeto Político Pedagógico. Extraí algumas informações importantes, como a Visão e os Valores em que está fundamentada. Da mesma forma, procurei contextualizar um pouco mais a escola, retratando a localização, o entorno, o município em si. Também apresentar dados sobre as crianças, a questão pedagógica e a organização.
     Acredito que o resultado ficou bom, Porém, a escola está em constante transformação, assim como a sociedade. Meus conhecimentos estão se ampliando, assim como meu campo de visão, e como consequência, os aprendizados vão se  consolidando. Com isso, meu olhar pode ver mais além, e conseguirá, talvez, perceber coisas que antes não alcançava. Mas sempre dentro da premissa da construção do conhecimento, que não se acomoda, mas se solidifica.


     Continuo achando minha escola um lugar bom de se estar, de conviver, de aprender, de crescer. Nossas ações diárias e a boa vontade é que irão consolidar esse enriquecimento em nosso trabalho, e o orgulho de poder dizer: esta é a minha ESCOLA!