As operações aritméticas que se iniciam nos
primeiros anos do ensino fundamental podem ser estruturadas cognitivamente na
educação infantil, pois a criança pequena já constrói as bases em seu dia a dia
nas brincadeiras e interação com os colegas.
As estruturas mentais vão se erguendo a
partir de experiências espontâneas e atividades orientadas por um adulto, no
caso um professor, que pode desafiar os alunos a fazer raciocínios matemáticos
e realizar as primeiras operações, de forma simples e contextualizada no que
ele está fazendo.
Como trabalho com crianças de dois anos de
idade, percebo a adição e a subtração nas brincadeiras mais cotidianas e em
canções ou histórias. Obviamente que nesta idade não sabem o que significa 1
+ 1 ou 3 - 1, por exemplo, mas ludicamente fazem estas operações.
Posso citar como exemplo quando estão
tomando o café da manhã e ofereço uma rodelinha de banana. Quando comeram o
pedaço, ofereço mais dizendo mais um.
Ao comer a segunda rodela digo “O Paulo comeu duas bananas”, mostrando
com os dedos. Do mesmo modo quando coloco vários gomos de bergamota na frente
da criança, digo: “O Caio tem um monte de bergamota!” Ao comer um digo: “O Caio
tem um gomo a menos... menos um...” até que comeu todos e exclamo “Onde estão
os gomos da bergamota que tinha aqui?”, claro que vão dizer “Caio comeu”, mas
digo “O caio tinha um monte de bergamota e agora não tem mais. Ele comeu
todos.” Pode ser simples? Pode sim ser extramente simplório o modo de trabalhar
matemática com os pequenos, mas já elaboram esquemas mentais, embora
rudimentares, mas efetivos.
Quando brincam sempre
tem uma criança que recolhe todos os carrinhos, por exemplo, embaixo do braço e
no colo, não deixando muitos disponíveis para os outros, causando
desentendimentos entre os pequenos, pois vai “tomando” todos os brinquedos.
Nestas situações aproveito e digo: “Nossa, o Moisés tem um monte de carrinhos e
os colegas não tem nenhum pra brincar. Vamos dar um para cada um?” Sugiro que o
aluno distribua os carrinhos, um para cada aluno, e no fim, quando distribui,
todos ficam felizes. Digo então: ‘Viva! O Moisés tinha um monte e agora cada criança
tem um.”
Nas canções e histórias acentuo as operações
aritméticas mentais, como na canção “Cinco patinhos” da Xuxa, onde percebem as
quantidades nos dedos, que representam os patinhos, e à medida que a mamãe
constata a falta de um, diminui o número de patinhos.
Os materiais alternativos são grandes
aliados das construções operacionais, pois podemos usar tampinhas de garrafas
pet coloridas, por exemplo, para fazer jogos de adição e subtração.
“Experiências mostram que o uso de material
variado contribui para a aquisição dos conceitos, portanto todos os materiais
disponíveis podem ser usados pelo professor, começando desde tampas de garrafas
e pedrinhas...” (Bittar, Freitas e Pais)
Um exemplo seria um
jogo com dado, que também pode ser de material reciclado, grande e colorido,
muitas tampas coloridas, fundos de garrafas pet para armazenar as tampinhas.
Joga-se o dado e digamos que Lucas tira o um, então pode pegar uma tampinha.
Marcos pega cinco então pode pegar cinco tampinhas. Podem-se fazer duas ou três
rodadas e no final soma-se a quantidade de tampinhas de cada um. Vence quem
juntou mais tampinhas. Provavelmente os menores não irão enfatizar a quantidade
numérica, mas a quantidade em termos de volume, o “montinho” maior de tampas.
Crianças do jardim, por exemplo, já irão compreender, mas no berçário ou
maternal irão associar mais com muito, o que não deixa de ser uma
pré-operação.
Penso que o professor da educação infantil acompanha
o crescimento e o desenvolvimento das crianças, então cabe a ele perceber como
a criança está construindo as noções matemáticas e onde utiliza, no dia a dia.
Para tanto, precisa ter a sensibilidade de perceber onde ela se manifesta e
onde pode aproveitar o momento para fazer uma intervenção, com o intuito de dar
significado a toda experiência dos pequenos.
Do mesmo modo, deve fazer uso de inúmeros
recursos práticos e criativos para elaborar estratégias de adquirir
conhecimento, de forma lúdica e construtiva.
Referencias:
Bittar, Marilena. Freitas, José Luiz Magalhães de. Pais, Luiz Carlos.Técnicas e Tecnologias no Trabalho com as Operações Aritméticas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Em: A matemática em sala de aula. Editora Penso. 2013.